Teu lar

Te convido a entrar, sempre esqueço a porta aberta, mas mesmo que não esteja você tem a chave, bom se eu não estiver em casa, talvez tenha saído para te procurar, ou só tenha ficado cansada de esperar por você aqui, mas volto logo. Nunca gostei de passar muito tempo fora, mesmo que não tenha exatamente um lar. Quer um café ou um chá? Sem açúcar como você gosta, pode bagunçar a casa, fica à vontade. Mas, por favor, fica, a casa não está do jeito que você gosta, talvez ela nunca seja assim. Desculpe amor, por não ser como sempre sonhou, por deixar as paredes trincarem, não pintar nada, quem sabe eu não estivesse esperando esse tempo todo que você viesse para fazermos isso? Pode ser que eu só tenha largado mesmo, por não me sentir acolhida aqui, por sempre sentir que faltava algo ou quem sabe alguém. Deixei as coisas como estavam, quebrei outro vaso esses dias, dessa vez eu o arremessei na parede, ele estava vazio, eu o tinha aqui para colocar suas flores que nunca recebi. Eu estava lendo um poema esses dias que falava sobre uma dançarina, não te contei, porque não havia notado que fui eu que escrevi, fingi que aqueles dias nunca existiram, que eram sonhos, sempre sonhei muito você mesma dizia, talvez por isso eu ainda deixo aqui os quadros que você pintou, as marcas de batom, mas principalmente as noites perfumadas com teu cheiro doce. Naveguei em mais uma lembrança tua, a sensação era tão clara quanto aquele quarto pela manhã e eu que nunca fui de ficar, espero em casa, no lar que nunca foi nosso, mas sempre quis que fosse teu.

Thai Campos
Enviado por Thai Campos em 24/09/2018
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