Ansioso por esperar demais

sentimento penoso este

toma espaço em qualquer tempo que faça

faça sol, faça chuva, faça nada

a solidão não atormenta somente aos desacreditados

assim que se apaga a luz, mas também ao sol mais forte

dedos e olhos se aproximam para conter a avalanche

leva tempo até algum passarinho conceber toda a história

balançando entre as pernas uma canção sombria que toca sem parar

entre ouvidos e cabelos embaralhados

por perguntas que ainda não foram respondidas

será alguém, além de mim mesmo, responsável por tudo isso?

ou é apenas um contrato de invalidez com o meu próprio eu?

ultrapassado, deixou de ser suficiente logo após esclarecer a primeira palavra

juntou farelos dos poucos minutos sóbrios

arrebentou a boca dos balões - não me agradava vê-los voando aos prantos

vagando em busca de um lugar pouco iluminado onde possam desabar e gritar

desesperados e iludidos pela própria imagem

seres inanimados não serão aceitos nas festas

porque então fazei-vos chorar?

desgraçada, vida desgraçada

argumentou tão bem à frente dos postes

me fez acreditar de novo nas cantigas de amanhã

amanhã será de novo e só mais uma vez

o corpo e a alma lado à lado

se esquivando de um conflito silencioso - mancharam minhas roupas e deixaram pouco em minhas mãos

mas ainda assim te vejo ali, parada

esperas pelo mesmo destino que vês passando

a chave e as sacolas em mãos

num degradê amarelo e branco, vindo de longe: é a paz

aos olhos de quem passa as horas

sentado em frente à multidão alucinada

que se movimenta sem amor, dura como ferro

tudo se repete lenta e detalhadamente

esqueletos enferrujados de incerteza

empurram corpos afogados em culpa e submissão: é a paz

acompanhada, a paz que venderam por tantos anos

engarrafada, a paz liberando o seu aroma agradável

armada, em sua frente decidida por atirar

descontrolada, a paz se reprime

esquiva e aperta o seu passo em direção à solidão.

Marcelo Teixeira
Enviado por Marcelo Teixeira em 23/10/2018
Código do texto: T6484394
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