Ansioso por esperar demais
sentimento penoso este
toma espaço em qualquer tempo que faça
faça sol, faça chuva, faça nada
a solidão não atormenta somente aos desacreditados
assim que se apaga a luz, mas também ao sol mais forte
dedos e olhos se aproximam para conter a avalanche
leva tempo até algum passarinho conceber toda a história
balançando entre as pernas uma canção sombria que toca sem parar
entre ouvidos e cabelos embaralhados
por perguntas que ainda não foram respondidas
será alguém, além de mim mesmo, responsável por tudo isso?
ou é apenas um contrato de invalidez com o meu próprio eu?
ultrapassado, deixou de ser suficiente logo após esclarecer a primeira palavra
juntou farelos dos poucos minutos sóbrios
arrebentou a boca dos balões - não me agradava vê-los voando aos prantos
vagando em busca de um lugar pouco iluminado onde possam desabar e gritar
desesperados e iludidos pela própria imagem
seres inanimados não serão aceitos nas festas
porque então fazei-vos chorar?
desgraçada, vida desgraçada
argumentou tão bem à frente dos postes
me fez acreditar de novo nas cantigas de amanhã
amanhã será de novo e só mais uma vez
o corpo e a alma lado à lado
se esquivando de um conflito silencioso - mancharam minhas roupas e deixaram pouco em minhas mãos
mas ainda assim te vejo ali, parada
esperas pelo mesmo destino que vês passando
a chave e as sacolas em mãos
num degradê amarelo e branco, vindo de longe: é a paz
aos olhos de quem passa as horas
sentado em frente à multidão alucinada
que se movimenta sem amor, dura como ferro
tudo se repete lenta e detalhadamente
esqueletos enferrujados de incerteza
empurram corpos afogados em culpa e submissão: é a paz
acompanhada, a paz que venderam por tantos anos
engarrafada, a paz liberando o seu aroma agradável
armada, em sua frente decidida por atirar
descontrolada, a paz se reprime
esquiva e aperta o seu passo em direção à solidão.