Devaneios

O tempo carrega consigo todo o temor, uma suave brisa bate de encontro com meu rosto que permanece completamente sem expressão. Meus olhos apenas refletem o vazio que meu coração carrega dentro de si e suavemente caminho entre desconhecidos a fim de me encontrar, mas a solidão esperada me convence a ir para outro lugar.

As nuvens preenchem todo o céu azul, o vento agora forte leva consigo todo meu espirito, não há uma direção se quer para caminhar, entro no bar costumeiro. Uma luz fraca, um ambiente predominado pela fumaça. O bar era pintado todo de vinho, a mesa de bilhar que fica no centro estava sendo competida por alguns motoqueiros mal-encarados, voltei meu olhar ao bar, me sentei em frente do balcão e pedi um copo de whisky puro, enquanto que pegava meu maço de cigarro.

Não havia explicação para estar ali, apenas fui guiada por minha vontade, não se tinha mais motivos para fugir, não havia conquista para lutar, apenas havia eu e o bar.

Um ponto de pura nostalgia, minha vida toda foi feita de sonhos, meu coração já foi escravo dos mais devassos desejos, minha mente planejava toda a minha trajetória, até que um dia eu cresci.

A cada tentativa se criava uma marca, a cada linha do tempo a esperança acabava, por varias estações eu tentei, por várias décadas eu senti, mas nunca fui fã da luz.

Houve um momento em que eu me dediquei, transformei, amei e tentei viver o melhor de mim, o melhor do mundo e o melhor da vida.

Mergulhei nas belezas do amor, transbordei nos sonhos do homem e me embriaguei no futuro prospero. Mas como a história bem mostra, um dia tudo desaba, suas forças se desfazem, seu coração se corrompe e toda luz é consumida pela escuridão.

Talvez essa seja a minha sina, meu grande destino, meu verdadeiro ser: o vazio

Pauso minha divagação para um forte trago em meu cigarro e um gole no meu whisky.

Olho atentamente a brasa queimar o papel e imagino como tudo isso começou? Não há necessariamente uma data, até porque houve vários começos e vários fins.

Engraçado chegar nesse nível, pois há tempos atrás eu era puro sentimento, hoje sou apenas um suspiro, meu corpo transpirava as emoções, hoje me esforço para ter alguma lembrança.

Não há mais saudades, não há mais vontade, não há mais perseverança e muito menos amor, apenas não há mais que me dê forças para continuar.

Quantas vezes dobrei meus joelhos e pedi clemencia? Quantas vezes me prostrei em pura piedade, ao menos Deus possa me levantar? Não sei dizer se houve resposta, mas sei dizer que nunca consegui escutá-Lo.

Após três copos de whisky e cinco cigarros, meu corpo estava anestesiado, depositei algumas notas no balcão, me despedi do barman com apenas um aceno e antes que eu abra a porta de saída acendo mais um cigarro.

Quando girei a maçaneta senti o tempo parar, uma sensação terrivelmente estranha percorreu por toda a minha espinha e meus sentidos ficaram completamente em alerta.

Ao abrir a porta do estabelecimento dei de cara com um calor confortavelmente refletido pela luz do sol que havia vencido as nuvens negras que horas atrás estavam dançando sua vitória pelo mundo.

Foi ai que abri meus olhos e enxerguei novamente ao meu redor, os enfeites de natal estavam se iniciando, alguns adolescentes se encontravam cheios de energia enquanto passavam por ali, pais levam seus filhos para cear uma bela refeição, casais se encontravam cheios de amor para dar. Foi então que percebi, não há como quebrar o ciclo, não há como impedir que sua alma venha lutar sozinha, mesmo que você tenha desistido, sempre há aquela única vela acesa, uma única vela que aquece seu coração e que quando você finalmente abre os olhos em meio ao calor natural ela vem e se expande.

O nome disso é esperança, e não há sombra que possa lhe consumir, ela sempre permanecerá acesa e sempre irá se encontrar com a primeira oportunidade que você conseguir lhe dar.

Mariane Palpini Cuinto
Enviado por Mariane Palpini Cuinto em 04/11/2018
Código do texto: T6494359
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