Criatura Andarilha

Certa vez conheci um homem de barbas grisalhas e meio amareladas por conta do sol ou talvez pela poeira da estrada que o acompanhava, assim como toda suas vestes traziam esse aspecto. Sua feição carregava traços de múltiplas experiencias e mesmo sua pele ressecada e dourada pela temperatura das longas caminhadas sobre o sol ele não demonstrava abatimento algum.

Embora ele aparentasse estar sempre distante em algo que só ele podia ver como alguém vidrado no clímax de uma historia; sua presença era terrivelmente densa como o toque em uma rocha que não se pode deixar de notar e muito menos de sentir.

Quando finalmente voltava os olhos para mim sentia como se seus olhos me escaneasse por completo em frações de segundos, não apenas da cabeça aos pés, mas, toda minha alma. Eu não só sabia disso como sentia-o fazer, como se entrasse em mim e voltasse com algo em mãos assim como faz um exímio mergulhador voltando das entranhas do mais profundo mar.

Isso ao mesmo que era terrivelmente assustador, era também tremendamente reconfortante. Sentia que logo viria algo sobre mim que nem mesmo eu conhecia, sem que eu falasse muito ou até mesmo pronunciasse uma unica palavra.

Um dia meu amigo continuou a sua jornada e me deixou um presente maravilhoso, ele me ensinou a caminhar assim como fazia, me ensinou a andar para dentro de mim.

Dizem que se olharmos atentamente para o fundo dos os olhos de um homem sábio conseguiríamos ver o mistério ao fim de um corredor em volto de raios e trovões travando um terrível dialogo de profunda sabedoria entre um homem e Deus.

Hoje busco um dia passar nem que seja na esquina desse corredor ao menos uma vez para ouvir de perto os mais inefáveis sons produzidos por esse terrível dialogo misterioso entre meu amigo sábio e Deus.