Guarda-roupas

Tirou as gavetas, abriu as portas, colocou as roupas sobre a cama. Chove lá fora, e um pouco dentro dela. Mas, águas limpam, certo? Talvez a chuva interna não fosse algo ruim, limpa o coração de coisas más que se acumulam ao longo do tempo. As roupas, em cima da cama, a lembrava de fases, momentos e situações vividas. Sempre foi uma colecionadora, de coisas e momentos. Sempre achava que usaria tal roupa um dia, sempre achou que funcionaria um dia, sempre guardou coisas antigas e isso impedia que coisas novas entrassem, no guarda-roupa ou na vida. No rádio tocava uma música antiga, que ela não lembrava o nome, mas a reconhecia de algum lugar escondido em alguma gaveta de sua mente. Em uma caixa grande, colocou tudo aquilo que não a servia mais, seja pelo tamanho ou pelo momento. Roupas e mais roupas. Algumas até serviam no tamanho, mas não era o momento de usá-las mais. Ela vivia outra época, outro estilo, era outra pessoa. Achou cartas, fotografias, lembranças de momentos que ficaram pra trás. A caixa ficou cheia, como sua mente e seu coração. Mas, a chuva que havia dentro dela, levou consigo muita coisa. Desceu pela rua, como uma forte enxurrada carregada de folhas secas e sem vida. Tirou da árvore as folhas que restavam. Ficou seco, só com galhos, esperando as flores da próxima primavera. Talvez, para a maioria, os galhos representam o findar da vida, pra ela era renascimento. Renasceu e a chuva, que antes levou suas folhas, hoje regou suas raízes e alimentou tudo dentro dela. Com tudo isso, aprendeu que não adiantava tentar ter coisas novas, se as antigas ainda ocupavam espaços demais.

Amanda K Abreu
Enviado por Amanda K Abreu em 31/12/2018
Código do texto: T6539577
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