Refúgio

Às vezes acho que sou feita de sangue e palavras, quando me cortam vejo o sangue escorrer e me vejo a transbordar em palavras escritas, mas nunca ditas. Palavras que ecoam por entre a casa do meu ser, meu corpo transcende na ânsia pelos rabiscos que de mim saem, e elas reluzem aquilo que minha boca cala, silencia. Chego a ser capaz de compor versos, rimas, e até histórias dos percursos de dor que me afagam com os cortes na alma. Não sei se sou um processo em descoberta, se sou parte disso que escrevo ou apenas o faço, não sei se um dia essa fonte se esgotará, mas tenho certeza que eu me esgotaria sem as palavras, sem a força que ela me passa. Espero sempre esbarrar nas laminas da vida, espero sempre ter uma ferida em aberto, assim eu saberei que estarei gritando no silencio dos meus poemas, e isso me basta. E eu poderia passar o resto da vida aqui, pondo pra fora o que sai natural, chega a parecer clichê, mas eu sou infinita quando me desmancho nessas ideologias, me sinto capaz de ir além das janelas velhas desse apartamento. Talvez um dia eu simplesmente acorde e nada disso tenha valido apena, mas saibam, valeu! Valeu por que eu vivi mil vidas embarcada nas minhas próprias histórias criadas, eu senti cada emoção de cada verso que se formava dentro de mim, então descobri que o tempo que eu gastei me procurando estava sendo desperdiçado, foi quando eu desisti de me encontrar e apenas aceitei o vazio da minha alma, e eu realmente entendi que o que eu mais procurava estava preso esperando por uma folha em branco e um grafite barato, então eu fui eu, aceitei a simplicidade e me encontrei! E se quer saber, eu não mudaria nenhuma virgula no meu percurso de alto conhecimento, e caso esse seja o meu fim, aceito, pois estou completa com o meu vazio gritante.

Ana Paula Guedes

Aninha Guedes
Enviado por Aninha Guedes em 19/01/2019
Código do texto: T6554701
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