O abismo desconhecido

Pela manhã, desde bem cedo, nos deparamos com multidões que caminham rapidamente em direção a algum lugar...

Vemos estampados em seus rostos, aflição e cansaço. Nas estreitas do corredor do ônibus, esbarramos pelos vazios, e os silêncios são refletidos em uma feição angustiante e deprimida.

Passam se as horas, os minutos, segundos, dias, meses, anos... Mas novamente, pela manhã, você irá se deparar com a mesma multidão cansada, onde os traços do sorriso seco, demonstram o quanto são esmagados pelo peso da rotina. Os que se sentam, temporariamente desmaiam, pois o corpo se recusa a continuar acordado, e os de pé, agarram-se nos apoios, e assim como uma orquestra que não erra a coreografia de canto, abaixam a cabeça em um só movimento, e seguem viagem a um possível destino...

De imediato, reflito em meu canto apertado do transporte público, onde consigo me aproximar da janela aberta e sentir a brisa gelada de toda manhã... Naquele momento, olho em volta e vejo sonhos perdidos, pois a frustração os enterrou como um coveiro de cemitério. Vejo o quanto a decepção fez com que os traçassem um único caminho, mas que nem eles mesmos sabem... Vejo o quanto a felicidade e alegria se tornaram vilões em suas histórias, e penso...

De que valerá?

De que vale essa incessante busca a um lugar desconhecido que pelo caminho acaba destruindo sonhos, dilascerando as expectativas, e os tornam um só todos os dias?

De que vale esse tempo todo dado, simplesmente de graça, à rotina?

O que esse lugar tem de tão especial que carrega multidões cegas?

Eu tenho a resposta, e pena também!

Mas antes, gostaria de alertá-los!

Vocês, pobres senhores, jamais deixem que seus serviços, sua rotina ou tarefa te façam esquecer de si mesmos.

Por mais que o sistema tente te incutir em seus padrões, em suas culturas... Resistam!

O tempo é curto demais para quem vive refém dele.

A vida passa veloz para quem não o acompanha.

E lembrem-se: "Mais vale a mente, o corpo e alma, do que a morte de seu espírito".

Vocês, senhores reféns de caminhos traçados... Vocês caminham para onde o orgulho se esvai, o tempo perdido não é recompensado, e o cansaço não é ressarcido. Vocês rastejam para a própria morte, para onde muitos já foram, um abismo desconhecido.

Gabriel Campos
Enviado por Gabriel Campos em 30/01/2019
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