O Cardume de Atum
Era um cardume de peixes prateados.
Atum, ela sabia. Mesmo afundando cada vez mais, perdendo o fôlego
e com os pulmões sendo amassados pela pressão, pôde contemplar a belíssima performance do cardume.
Eles davam voltas, formando um grande círculo. Um círculo do terror, pensou. Era mais como um buraco negro, a singularidade que é capaz de engolir uma galáxia inteira. Um cardume tão voraz, que engole quase que em segundos uma velha baleia que, cansada, nada com dificuldade no vácuo azul.
O cardume é tão voraz e belo que faz com que ela fique encantada e louca. Louca a ponto de ir ao seu encontro. Ir ao encontro de algo incrivelmente belo e voraz.
Mas o que importa? Seus pulmões já estavam virando algo parecido com plástico queimado. Seus olhos ardiam. Seus ouvidos doíam um pouco, mas a dor era quase imperceptível. O que iria importar entrar naquele enorme buraco prateado?
Ela continuava a cair, profundamente e sozinha.
O cardume passou diante os olhos dela. Os olhos já não eram mais azuis, verdes ou marrons. Agora, eram pratas. A prata que vestiu os gladiadores do Coliseu e todo o exército romano que cheirava à conquista e sangue, sentia inveja, pois nem ela mesma podia imaginar o brilho que tinha um cardume de atum.
A prata era voraz. Ela a engoliu.
E continua caindo na imensidão azul: a prata e a fita vermelha que estava no cabelo dela.