Depósito da dor
Presa na minha bolha teimo em querer fantasiar o mundo em que vivo.
A dor de encarar de frente quem sou no presente e o quanto perdi de mim mesma no caminho.
A dor de me ver no espelho e perceber que tudo são máscaras e cansei você com tudo isso.
Presa na minha inconsistência e insegurança – que aparece fielmente nos sonhos.
Sou agora refém dos próprios dramas que criei na estação passada.
A dor de me perceber tão reclusa e alheia nas relações – sempre dando afago e nunca o recebendo.
A dor de ter a voz rouca, bonita e calada.
Me prendi numa gaiola pequena demais pra mim e engoli a chave - mas para quê?
Sou agora dona das consequências desse caminho, e o que fazer? Pra onde ir?
De repente uma luz que surge como assopro ou vendaval
me ajuda a te enxergar mais claramente – por entre a fumaça percebo que o responsável sou eu
por todo tumulto e agitação.
Gastei minhas fichas no trem mais rápido que passava por aqui e depositei o pouco que restava de mim na esperança de manter um fogo já apagado.
Não posso ser combustível pois estou presa aqui.
A dor de admitir as coisas mais entaladas e difíceis, ora se não fui eu mesma que arquitetei toda essa cena.
A dor de ter coragem e acabar chorando mais uma noite inteira por não acreditar em mim
e preferir os poemas tristes
e preferir as verdades errôneas
e preferir os erros
e sofrer
por estar presa nessa bolha e não perceber o quanto eu preciso de mim.
Quantos segundos mais precisarão ser adiados
para que eu perceba que não é você quem tem que perceber
e sim eu quem tenho que levantar e seguir?
Teimo em me agarrar a essa solidão e silêncio
e gritar através das poucas palavras,
teiimo em ser intensa e pagar o preço
de carregar um fardo
pesado
que é ser
isso
que ouso chamar de
eu