Depósito da dor

Presa na minha bolha teimo em querer fantasiar o mundo em que vivo.

A dor de encarar de frente quem sou no presente e o quanto perdi de mim mesma no caminho.

A dor de me ver no espelho e perceber que tudo são máscaras e cansei você com tudo isso.

Presa na minha inconsistência e insegurança – que aparece fielmente nos sonhos.

Sou agora refém dos próprios dramas que criei na estação passada.

A dor de me perceber tão reclusa e alheia nas relações – sempre dando afago e nunca o recebendo.

A dor de ter a voz rouca, bonita e calada.

Me prendi numa gaiola pequena demais pra mim e engoli a chave - mas para quê?

Sou agora dona das consequências desse caminho, e o que fazer? Pra onde ir?

De repente uma luz que surge como assopro ou vendaval

me ajuda a te enxergar mais claramente – por entre a fumaça percebo que o responsável sou eu

por todo tumulto e agitação.

Gastei minhas fichas no trem mais rápido que passava por aqui e depositei o pouco que restava de mim na esperança de manter um fogo já apagado.

Não posso ser combustível pois estou presa aqui.

A dor de admitir as coisas mais entaladas e difíceis, ora se não fui eu mesma que arquitetei toda essa cena.

A dor de ter coragem e acabar chorando mais uma noite inteira por não acreditar em mim

e preferir os poemas tristes

e preferir as verdades errôneas

e preferir os erros

e sofrer

por estar presa nessa bolha e não perceber o quanto eu preciso de mim.

Quantos segundos mais precisarão ser adiados

para que eu perceba que não é você quem tem que perceber

e sim eu quem tenho que levantar e seguir?

Teimo em me agarrar a essa solidão e silêncio

e gritar através das poucas palavras,

teiimo em ser intensa e pagar o preço

de carregar um fardo

pesado

que é ser

isso

que ouso chamar de

eu

Victória Araújo
Enviado por Victória Araújo em 05/02/2019
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