Os Sem Terrinhas e a farsa ideológica da Record

A propósito da espúria reportagem sobre os Sem Terrinhas no canal de TV do bispo que construiu um império apenas com os “dízimos” dos fiéis. Segundo a reportagem do aludido canal de televisão, o movimento expunha as crianças à risco de vida através de manipulação ideológica das mesmas, violando supostamente, portanto, o art. 227 da Constituição Federal.

Referido artigo da Magna Carta, dispõe que é DEVER da FAMÍLIA, do ESTADO e da SOCIEDADE, garantir para os rebentos entre outras coisas: saúde, educação, vida, alimentação, cultura, lazer... direitos estes que estas crianças, na sua maioria, filhos de sem terras do campo, ou das periferias das grandes cidades – pois são vítimas do êxodo rural – não acessam. Soa, portanto, curioso o ponto de vista da violação de já mencionado artigo pela emissora. Tudo em virtude de um Encontro Nacional realizado pelo movimento em Brasília cujo objetivo era fornecer espaços culturais, de literatura, brincadeiras e estudo dos próprios direitos estabelecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, tudo em conformidade e autorizado pela legislação vigente.

Causaria espanto a emissora saber que as escolas em Assentamentos do MST, possuem excelentes índices no IDEB; Que Sem Terrinhas ganham concursos nacionais de redação; Que um Sem Terra – que já foi Sem Terrinha – ocupa um assento na Academia Paraense de Letras; Que o MST já ganhou prêmio da UNESCO pelos serviços prestados a educação; Que em alguns Assentamentos e Acampamentos fora zerado o analfabetismo, tornando-se, portanto, territórios livres do analfabetismo em um país cuja taxa de analfabetismo, na faixa etária de 60 anos ou mais, é de 20,4%; Que em uma turma de direito de 37 pessoas dos movimentos sociais do campo, 12 delas passaram na temida prova da OAB antes mesmo do término do curso, Que Sem Terras falam espanhol, francês, inglês, créole...

No entanto, na contramão disso, a emissora expõe um apoio explícito a um presidente da república – com letra minúscula mesmo – Que é apaixonado por Carlos Alberto Brilhante Ustra que tanto torturou e matou na Ditadura Militar; Que diz que a referida Ditadura matou pouco, deveria ter matado mais; Que é intolerante aos LGBTs, negros e mulheres; Que nomeia um ministro que diz que Marx embora tenha nascido posterior a Revolução Francesa, influenciou esta; Que nomeia uma ministra que diz que lugar de mulher é em casa e que menino deve vestir azul e menina rosa; Que nomeia um ministro que diz que a educação deve ser reservada para uma elite intelectual; Que diz que você deve escolher entre trabalho e direito; Que quer roubar a sua aposentadoria.

Mas, isso eles sambem, as crianças Sem Terrinhas não são educadas de forma submissa e apática às ordens do capital, elas contestam o estado de coisas. Sabem que nada é perene; que não é, portanto, inexorável a estrutura social do modo de produção capitalista. Aí exatamente que reside o verdadeiro temor da emissora, pois tais premissas põem em risco seus privilégios de classe dominante.

Dotados por este espírito crítico, esses Sem Terrinhas tornam-se, portanto, adultos que mergulham na essência das coisas e não se deixam levar por suas aparências. Fato que dificulta a possibilidade de serem manipulados através de Fake News. Desta forma, a negação de direitos os levam à luta, às manifestações e não, talvez, à Igreja do bispo, dono da emissora, esperando tão somente por providência divina, pois aprendemos que Deus ajuda desde que façamos também a nossa parte.

Se, contudo, educar com vistas a formar uma sociedade crítica que luta por seus direitos e que conhece a sua própria história, for manipulação ideológica. Devo confessar-lhes que prefiro ela. E não essa disseminada pela rede Record – acaso acham que a reportagem não é ideológica? (Como se existisse algo neutro nesse mundo) – que pretende criminalizar os que lutam por seus direitos no intuito de formar uma sociedade de cordeiros submissos e apáticos às ordens do capital, ou de seu bispo? Dá na mesma!

bily anov
Enviado por bily anov em 14/02/2019
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