Ponto e vírgula

Suicídio. Ainda não consigo ouvir essa palavra sem sentir meu estômago revirar. Ontem escutei alguém dizer que um jovem se suicidou, devia ter mais ou menos a idade do meu irmão, um arrepio me atravessou o corpo. De novo. Mais um.

Sem pensar, passo a mão pela minha única tatuagem, um ponto e vírgula desenhado em cima do pulso da minha artéria radial do antebraço esquerdo, um sinal de vida, um símbolo de pausa, podia ter sido só uma pausa, mas foi um ponto final. De novo. Mais um.

Sempre achei que os sobreviventes do suicídio eram os que tentavam se matar e não conseguiam, mas na verdade descobri que os sobreviventes somos nós, que nem sequer tentamos ou pensamos em morrer, mas sentimos exatamente a sensação da morte, que temos que lidar com a dor quase física da tristeza. Tive que me acostumar com o alarme que dispara na minha cabeça no dia 21 de cada mês, dia de sentir saudade. Dia 21. De novo. Mais um.

A gente vive uns dias, sobrevive a outros, em dias muito difíceis, a gente deseja morrer também, mas passa, em dias extremamente difíceis, ponto e vírgula, pausa, respira. De novo. Mais um.

Giraflor
Enviado por Giraflor em 28/02/2019
Reeditado em 12/09/2019
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