Tantos “eus”

Trago em mim tantos "eus".
Uns dilacerados pelos tiros das guerras internas, outros amputados pelas doenças da alma, outros ainda, decapitados pela ausência de amor em essência.
E tantos outros que doem sem ser ferida e ferem causando dor nos outros.
Tem uns que se amontoam na minha personalidade que parece dupla, tripla, quadripolar.
Outros, educados o suficiente para esperar o pó se assentar.
Tenho uns agitados, ansiosos que criam imagens ciumentas de uma realidade nua e crua, despindo a racionalidade e se pondo em lágrimas.
Tenho alguns irreverentes, sambam de roda na vila da solidão e se enchem de si, por si só.
Tenho uns retardados que chegam no fim e querem sair na frente, nem param no box (insanos).
Tenho uns rebeldes que trocam seis por meia dúzia de provocações e não cessam.
Tenho uns sonhadores que veem nuvens de algodão em dias chuvosos, coitados, transformam a realidade, são mais.
Tenho alguns matutos, desconfiados, comem quieto, mas são malvados.
Tenho mais uns apertados.
E tragando esse vicioso cigarro da vida, fumo o que me faz bem: tem prazeres de identidade que ultrapassam a razão, tenho um deles.
E sempre nasce mais um...
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 26/03/2019
Reeditado em 17/05/2020
Código do texto: T6607988
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