Ontem o correio bateu na minha porta com uma entrega sua

Eu quis te mandar um fax, uma carta, um sina de fumaça que fosse, qualquer tentativa que gritasse em seu ouvido que o meu endereço é o mesmo e o meu amor também. Eu quis correr descalça pela cidade a sua procura, quis organizar uma orquestra bem de baixo da sua janela e nesse embalo recitar para ti um soneto qualquer de Fernando Pessoa, quis te contar sobre o quanto errei com você, comigo e com a nossa história. Mas ai já era tarde demais, eu parei no tempo acreditando que o que é nosso um dia volta com o vento, mas o vento te levou e já era tarde demais. Você não espero por mim, mesmo você sempre voltando pra ver se eu finalmente tinha entendido a borrada que estava fazendo com nossa história, mesmo assim, já era tarde demais. Talvez eu tenha aberto mão de “nós” por achar que não era o momento certo, por imaginar o quanto seria difícil um relacionamento no qual duas pessoas viviam mundos e emoções tão distintas, desculpa, mas eu tinha tudo programado. Só que então eu encontrei você, eu encontrei você antes de todos os planos, eu encontrei você em um domingo qualquer; chuvoso e frio, eu encontrei você bem de baixo dos meus olhos, eu encontrei você e isso não me acertou na veia, acertou no corpo todo, explodiu e espalhou por aí... Explodiu e se desfez por minha culpa, por culpa dos meus planos idiotas, por culpa do destino que me fez encontrar você na hora errada. Agora os planos estão todos no lugar, mas falta você, com isso, me falta tudo. Hoje o correio bateu na minha porta com uma entrega sua, o coração pulsou de alegria, nem acreditava que você ainda guardaria meu endereço, mas a alegria logo se desfez em pedaços de tristeza que percorreram meu corpo, era o seu convite, o convite para o seu casamento e olha que ironia, você se casaria com alguém em poucos meses.

Aninha Guedes
Enviado por Aninha Guedes em 28/03/2019
Código do texto: T6610103
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