Por mais vida vivida e menos "curtida"

Alguns fatos que aconteceram ultimamente chamaram muito minha atenção: Uma jovem famosa cometeu suicídio, assim como uma miss, um comediante famoso afirmou estar em depressão, e um cantor famoso sumiu por um ano e depois reapareceu com músicas bastante reflexivas sobre a função das mídias e redes sociais na vida das pessoas. Inclusive, em alguns lugares (países), uma dessas redes sociais, retirou o número visível de curtidas, assim ao postar uma foto, por exemplo, não há como saber quem "curtiu", "aprovou", "aceitou" sua postagem. Foi um método que gerou certa reflexão sobre a necessidade de "curtidas".

O objetivo aqui não é julgar as pessoas supracitadas, ou apontar o erro delas. Ao contrário, é fomentar reflexões para que outras pessoas não cheguem a esse ponto, cuidem-se, desenvolvam o amor próprio e a auto responsabilidade.

Essa geração está preocupada com o número de "curtidas" ou "likes" que recebe em uma foto nas redes sociais. Ao viver um momento legal, não desfruta dele por completo porque faz pausas para fotografar e compartilhar, mas momentos simples e normais da vida, não são fotografados. Não sei... Acho isso uma espécie de prisão a que essa geração está submetida. Querem se sentir aceitos, querem aprovação do outro. E para isso, compram coisas caras, caríssimas, para sentir-se participante daquele grupo de pessoas que usa marca. Tem sido muito mais sobre "o que eu tenho" do que "o que eu sou". O diálogo olho no olho já não existe mais. Sentar ao ar livre para conversar com os amigos entrou em extinção. A conversa agora acontece via internet. Postam momentos felizes, maquiadas (os), sorridentes, gastando dinheiro em locais caros, mas, por dentro continuam vazios, perdidos, carentes, sua essência, sua humanidade se perdeu pelo caminho. Por não saber lidar com seus problemas internos, suas dores, sua vulnerabilidade, vem a ansiedade, a depressão, o suicídio... Até porque nas redes sociais, todas as pessoas têm vidas maravilhosas, livres desse tipo de problema, ninguém expõe sua dor, apenas sua alegria. É uma exigência para estar sempre bem, alcançando sucesso, realizações, não há espaço para um dia ruim.

Além disso, para manter as aparências, compram "coisas" que nem sequer precisam, mas para ter o que os outros têm, para sentir-se pertencente ao grupo, e nesse comprar compulsivo e sem consciência, contribuímos para a manutenção do status quo. Pessoas tem seu trabalho explorado para produzir as "coisas" que compramos caro. Pessoas passam fome enquanto gastamos trezentos reais em uma peça de roupa, ou numa bolsa, ou numa sandália, só por causa de um nome preso nela: uma marca. Sinceramente, eu gosto de coisas de marca, primeiro porque duram mais, e depois porque faço parte dessa geração que foi alienada para agir dessa forma. Mas, luto contra essa manipulação cotidiana. Precisamos subverter a essa lógica capitalista e desumana.

Vi hoje uma imagem, um desenho, de uma mulher sentada sobre outros seres humanos. Ela vestia uma camisa com a estampa de Che Guevara, que é um símbolo contra injustiças sociais. As pessoas nas quais ela se sentava, eram trabalhadores que lhe entregavam nas mãos alimento, outros entregavam celular, chocolate, uma mulher nua entregava um notebook, abordando a exposição exacerbada do corpo (nu ou não) da mulher na internet e mídias, como um objeto, além da exploração sexual, sites e vídeos pornográficos, mais um desrespeito à mulher... Uma mulher costurava sua roupa, outra no chão com produtos de beleza, como se fizesse suas unhas, e essa mulher sentada sobre todos os explorados por ela, com semblante triste, com a camisa de Che Guevara, como se ela também fosse contra a exploração do trabalho alheio, contra a desigualdade e as injustiças sociais, no entanto ela valeu-se dessa exploração para si. Me fez pensar muito... Até que ponto não somos como essa mulher? Talvez nos consideramos moralmente superiores aos outros por sermos contra a manutenção do status quo, contra a desigualdade social, a favor dos pobres e oprimidos, doamos, ajudamos, mas, nos valemos do trabalho alheio, preferimos coisas de marca, porque queremos ser aceitos nos grupos sociais. Afinal, que diferença fazemos? Não nos consideramos alienados, porque enxergamos as injustiças sociais, mas será que não estamos contribuindo para sua manutenção? O que temos feito para mudar isso? O que adianta uma ideologia, quando na prática a vida continua a mesma? Até que ponto somos legítimos para falar em defesa dos menos favorecidos, recebendo um salário altíssimo no fim do mês, (do qual nem dez porcento é destinado a instituições que ajudam os necessitados) e desfrutando do bom e do melhor (afinal você merece, trabalha tanto para isso)?

São muitas as mazelas... São muitas as reflexões... Precisamos repensar nossa vida.

Sobre as carências dessa geração, é preciso cuidar da mente, cuidar do coração, valorizar o simples, o vivido, ouvir mais, falar menos, observar mais, ser feliz na simplicidade da vida, na risada de uma criança, ouvindo as histórias da vovó, valorizar momentos em família, olhar nos olhos dos amigos, procurar ajuda profissional, se for o caso, e principalmente, desabafar suas dores, expor sua vulnerabilidade a Deus, nosso melhor amigo, Ele nos ajuda a lidar e a compreender nossos dilemas internos, nossas crises existenciais. Vamos começar em nós, nossa vida, nossa família, nosso local de trabalho, nossa comunidade a valorizar o ser e não o ter, a vida vivida na realidade e não na internet, a ser feliz com nossas imperfeições amando e sendo amado por quem nos conhece de verdade e não por uma tela. Que essa geração consiga romper com essa prisão e cuidar de si, alcançando sua melhor versão.

Ghane Kelly Gianizelli
Enviado por Ghane Kelly Gianizelli em 11/05/2019
Reeditado em 22/05/2019
Código do texto: T6644385
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.