Sobre a felicidade
Em frente à uma baía de beleza ímpar, sentindo o vento no rosto, vento constante, arredio, ar que se movimenta e leva consigo as águas para um encontro violento com as pedras, onda após onda, me sinto contemplativo o bastante para pensar sobre a felicidade.
Felicidade. Muitos pensam sobre ela. Ou, ao menos, em como obtê-la para si. O barulho não menos constante dos veículos que trafegam na larga avenida atrás de mim me leva a considerar se estes carros luxuosos e motos descoladas que por ali passam levam consigo pessoas felizes. A felicidade estaria, então, em possuir estes e outros objetos desejados por muitos? Para alguns, talvez. Provavelmente por menos tempo do que gostariam.
Noto ao longe um bairro nobre que margeia a baía, cercado por alguns dos paredões verdejantes que compõem a muralha do Atlântico e repleto de casas e prédios de alto padrão, e me pergunto: lá moram pessoas felizes? Sem dúvida que sim, contudo, a tristeza também há de ter seu espaço por aquelas bandas.
Em contraponto, noutra margem da baía, defronte aos prédios garbosos, está uma humilde vila de pescadores, composta principalmente por casas simples de madeira, com portas e janelas reaproveitadas e pintura gasta. Ali seria o lar da tristeza, da desilusão? Não há como negar que muitos ali estão infelizes, mas a felicidade, indubitavelmente, ilumina a vida de tantas outras que vivem com a mesma privação.
Parece-me nítido, portanto, que a felicidade não está em um endereço requintado ou num ter incessante que aprendemos a desejar. Tampouco se pode afirmar que não estará onde se passa necessidade, pois ela está, sempre, em um alguém.
Alguém que saiba sentí-la a partir de realizações, grandes ou pequenas, de encontros com os que lhe são queridos, de momentos de gozo ou de reflexão. Pouco importa se este alguém é rico, pobre, bonito, feio, preto ou branco. Importa, sobretudo, que se posicione positivamente frente aos acontecimentos e se permita sorver as pequenas doses de felicidade que oferecem.