"O carrossel não para de girar"

Apesar de sempre ouvir das pessoas que o "carrossel não para de girar", até já cheguei a ler essa frase em parachoques de caminhões por aí, o que particularmente me desagrada, parece uma frase tão delicada e profunda para se perder fácil nos olhares de quem não enxerga o real sentido dela. Mas voltando, apesar de sempre tentar acreditar nas pessoas ao ouvir elas falarem que esse carrossel realmente não para, apesar de todos os esforços, isso não me parece mais real. Cheguei a um ponto em que não noto mais o movimento rotatório do meu carrossel, como se os cavalinhos estivessem desistido de lutar por mim, como se as luzes que compõem o espetáculo tivessem queimado uma por uma. Na verdade, acho que eu mesma deixei que isso tudo acontecesse, fui esquecendo de manter as luzes acesas, fui parando de cavalgar, esquecendo que toda nova volta significava um novo recomeço, e que recomeçar significava deixar de olhar para trás e construir um novo ciclo, mas eu não o fiz, eu não deixei nada disso para trás, esse foi o meu maior erro. Meu carrossel não podia lutar por mim, só o vento soprando ao seu encontro não iria mantê-lo, ele precisava que eu o ajudasse, mas eu desisti de mim, da minha vida, eu desisti dele. A verdade é, chega de carrossel, chega de empurra-lo com a barriga, chega de se iludir com a ideia de um novo ciclo, um novo recomeço. Não me sinto viva à tempos, sou só a carne de um corpo que embalado segue os dias, sou só uma alma que tá gritando pelo fim de todos os recomeços, sou alguém que não acredita mais em carrossel, e não suporta a ideia de ouvir das pessoas que ele não para de girar. Não me sinto viva, não sinto mais as emoções, nem se quer as que magoam o outro, não ligo se o carrossel parou, eu parei antes dele e ninguém percebeu, mas continuaram dizendo-me: "o carrossel não para de girar."