De pressas depressas

Hoje não foi um bom dia, contando que esse dia é sempre 2014 nunca seria um bom dia. O céu chorava diferente este dia, acordei com calafrios, energias passavam por todo o meu ser enquanto meus olhos focavam em pontos que faziam-se tremer com o bater do meu coração, eu não mereci esse dia, o dia não se mereceu a ser bom conquanto o destino preparou por ser o destino, e como qualquer ser humano normal, eu não queria dor, por ser apenas pura dor. Enquanto o dia se passava, friorento em seu inverno, cruel em tuas neblinas e vazio de seus ecos das ruas, andava eu, com sensação supra hedionda, forçado a dias e dias de procrastinação no sozinho, destinando-me a um melhor ou a mesmice?

Mas as energias me diziam ao contrário, os pássaros não cantavam, eu não me animava, não vivi tal dia, por ser um dia, de muitas lágrimas faziam as nuvens cinzas, do frio que entrava até no osso, eu tremia, eu temia, e foi o pior. Circulava pelas ruas, procurando o que comer, indo à padaria, matando tempo com o viver, sobreviver. Achava que estaria tudo certo, depois de tantos os acontecimentos, ainda teria o Grand Finale para concluir o mês. A corda se rompeu, eu senti meu coração amargurar, tremi, temi. Sabia que não teria como voltar mais, pois o que deveria acontecer, aconteceu. O vento me soprava como se me impedisse de ir donde queria, as folhas balançavam com o sussurro dos segredos desse mundo, meus olhos enfrentavam a poeira, os braços o frio, os pés a fadiga e a cabeça a sinusite, chovia, me molhei, que bom que disfarçaram a chuva do meu corpo.

Havia alguém deitado no chão frio e molhado, com o dedo apontado e os olhos se fechando, os sons pararam, as vozes pararam, por um minuto um tive silêncio, meu mundo se calou e eu corri. Minha mão tremia pela síndrome e pelo medo, o espanto do novo de um sentimento velho, do de novo. Procurei seu calor e me perdi, procurei seu respirar e me sufoquei nos soluços, procurei teus olhos e achei minha visão penetrada, procurei teu silêncio e achei meu grito, a garganta arranhava em prantos, a ruína, agridoce.

Mas eu não escolhi a dor, mas aquele momento me escolheu ter dor, opcionalmente o sofrimento, angústia e rancor, rangi meus dentes, apertei meus olhos e vi o cosmos, estrelas cadentes que um dia foram sol da manhã, hoje, poentes. Minhas unhas contra a palma da mão, os dentes contra os lábios, os sentimentos contra as razões e a injustiça contra a realidade, meu coração chorou, minha alma quebrou uma importante promessa, me vi corvo, me vi impotente, me vi sozinho.

Como uma mordida de fome de pressas depressas, arrancaram-me meu mestre, não tive tempo de despedir, não tive tempo de falar, nem mesmo ouvir sua voz ou seus dotes musicais uma última vez, não vi seu brilho, nem mesmo suas falas soltas ou não destinadas a mim, quando a realidade é surpreendente dolorosa a pessoa, ela mesma nega o que é real, deixa de pensar no que existe, nem mesmo acredita ser real, somente esboço, e o mundo, rabisco.

Aquele dia teve silêncio, em todos as 7 cordas.

E a morte deve ser tão maravilhosa, que ele nunca voltou para me procurar.

Morreu o demônio mais humano que eu conheci

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 23/06/2019
Código do texto: T6680137
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