devaneios, parte 2
Uma chuvosa manhã de terça-feira. A xícara de café, já frio e amanhecido, ao lado do enorme cinzeiro de prata com um cigarro meio pitado ainda soltando aquele repugnante odor, em cima da velha mesa de cabeceira. Há uma fresta aberta da persiana vinho (é a única luz a entrar no ambiente). Poeiras rondam o ar, o que dá para ser percebido pela camada de pó em cima dos móveis. Sobre o carpete, roupas jogadas, e seu all star azul se encontra ao lado do meu coturno surrado. O único som que se pode ouvir é a música que vem dá antiga vitrola no canto esquerdo do pequeno quarto. Está tocando Caetano. Na cama, estamos nós: deitados, enrolados, embriagados, cobertos com um velho lençol já encardido pelo tempo, com apenas as pernas entrelaçadas à mostra. Sinto sua respiração em minha nuca enquanto faz cafuné nos fios do meu cabelo já embaraçados, cantarolando a música a ser tocada. Assim seria uma manhã de um dia qualquer. Com você.