Verdades

Se tivesse uma classificação de texto escrito "verdades", é bem possível que eu utilizasse ela pra nomear esse aqui.

Porque faz alguns anos que eu entrei nesse furacão... E só agora eu percebi essa confusão que abriu-se. Que me meteram nela. Que tentaram me avisar. Que tentaram me proteger. Mas que ninguém conseguiu.

Onde é que eu estava quando ele veio me pegar?

Onde é que eu estava e com quem eu estava quando eu fui pega?

Que loucura foi essa que fizeram comigo?

Onde está a minha memória daquele trágico momento?

E quando abriu-se uma pista a minha vida virou de ponta cabeça, eu sei. Na verdade tudo começou a vir para fora.

Eu tentei sufocar isso com álcool, bebida, drogas, mas não deu, isso foi mais forte, e aqui dentro tem um grito interno que é tão forte que não me deixou sufocá-lo, e eu fui obrigada a ouvi-lo.

E eu ouvi, e outras pessoas ouviram, e toda a terra tremeu quando ele saiu.

O desespero era tanto, que todos são tocados no mais profundo e íntimo do ser quando escutam esse grito, é um grito de profundo desespero. É um grito profundo, é o grito que todas as pessoas invejam, porque todas gostariam de dar esse grito de vez em quando.

Mas nunca foi premeditado. Cair nunca foi premeditado, desligar, apagar, sumir, entregar-se, nunca foi premeditado. É quase que sem escolha, é quase que ser arrastado, eu não tenho controle algum sobre isso.

Eu caio, e grito, e volto, e cada vez que volto eu volto diferente da volta anterior.

Na primeira vez eu gritei desesperada e voltei chorando muito, como um bebê.

Da segunda vez eu gritei desesperada e voltei com uma fúria e determinação de ir adiante, e resgatar aquele pedaço de mim que ficou nesse lugar desconhecido e opressor, nesse lugar de profundo desespero. E arrancar o rosto do feitor disso com os dentes, de uma só vez.

A próxima vez... Eu sei que ela vai vir. A próxima vez eu vou pegar cada parte de mim com força de vontade inestimáveis, eu vou pegar essas partes com muita garra e coragem, com muita gana, eu vou pegar com muita propriedade, eu serei dona de mim outra vez, eu serei eu mesma, eu serei inteira de novo, totalmente empoderada, eu serei dona de mim por inteira, e eu pegarei quem fez isso comigo pelo pescoço, erguirei essa lembrança pelo pescoço e enforcarei até tirar essa dor de dentro de mim, pois eu não pertenço a ela, e nem ela me pertence, ela foi colada em algum lugar em mim e me fizeram esquecer que lugar foi esse, ela foi colada, mas eu não sou ela, e ela não é eu, e eu não pertenço a ela e nunca pertencerei, e é disso que eu vou lembrar na próxima vez que eu cair e que eu gritar em desespero: eu vou lembrar de tudo, e lembrar de tudo o que eu realmente sou.

Alecrim Cristal
Enviado por Alecrim Cristal em 13/07/2019
Reeditado em 13/07/2019
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