NADA MAIS IMPORTA

Ouvi em algum lugar que post ideal tem que ter 500 palavras. Pesquisei um bocado mas ainda não entendi o motivo disso. Gosto de escrever e não gosto de certos tipos de limitações. Antes acreditava que os dons artísticos só haviam acometido outras pessoas da minha família; nunca considerei escrever como arte. Mas depois entendi que colocar ideias, opiniões, os sentimentos, os acontecimentos e os desabafos em um papel é arte sim. As palavras surgem como um embrulhar de estômago… só passa se você vomitar. Desculpe a analogia grotesca, mas é o que me veio aqui agora e pra mim a melhor comparação. No trânsito, no banho, na fila do cinema ou na espera do médico, prestes a dormir ou prestes a acordar. Às vezes sonho com as palavras e sou perturbada, incomodada. Nocauteada! Até colocá-las em um papel ou na tela de um computador. Não é possível suprimi-las. Então não me venha com limitações… Já redigi em locais um tanto pitorescos. Já interrompi conversas importantes porque me desconectei dali quando as palavras quiseram fluir. É bem mais forte que eu! Guardanapos de papel já testemunharam meus sentimentos em mesas lotadas de conversas fúteis. Já escrevi de batom em banheiros alheios. Na adolescência escrevia poemas nas camisas de colegas, em final de período letivo. Hoje acordei com vontade de escrever isso. Tomei café incomodada, como uma pedra atrapalhando o sapato.. e enquanto escrevo, em meus fones de ouvido a mesma musica 8594584 vezes (por acaso Nothing Else Matters, do Metallica). Já perdi inspirações escritas em 10 páginas de Word por não ter gravado o documento. E não foi displicência. Simplesmente não conseguia parar para salvar. Já enlouqueci escrevendo, e também já curei insanidades sem remédios mas com a ponta de uma caneta. Escrevi cartas para amigos imaginários durante as aulas chatas de vários professores. Já fingi ser quem eu não sou em diários de capa rosa e perfumada. Já escrevi dezenas de emails que não enviei… e já disse que amava e só quem soube foram certas folhas brancas de papel. Já deixei escorrer muitas lágrimas em registros que se perderam… em lixeiras. Já escrevi poemas encomendados por corações apaixonados… e já criei amores inexistentes só para ter o prazer de firmar em papel. Escrevi um diário inteiro para minha filha enquanto ela ainda estava dentro de mim. Já fui muito mal compreendida quando leram minhas certas frases polêmicas. Já rasguei o que escrevi em pequenos pedacinhos no meio de uma discussão e a pessoa nunca soube o que estava registrado lá… o vento levou cada sílaba. Então não me limite. Não venha dizer o que tenho que fazer. Já passei da idade para seguir certos padrões. Sou intensa demais para me contentar com pouco discurso; minha vida inteira foi argumentar. E no ouvido, Metallica… “never opened myself this way, life is ours, we live it our way, all these words I don’t just say… and nothing else matters*”… Nada mais importa. E essa é exatamente a palavra número 500.

*Opção de tradução: “nunca me abri desse jeito, as vidas são nossas, nós vivemos do nosso jeito, todas essas palavras eu não apenas digo… e nada mais importa.”

[Nivea Almeida, 11-10-2015]