Paka e Etá
Num dia normal fui conhecer Paquetá, que linda ilha, logo pensei, ao ver da barca flutuante a baía de Guanabara e o horizonte verde com uma pitada de algumas casas. O verde que restou depois da desumanidade, a mesma que habita, a mesma que é turista, a mesma que diz que ama, a mesma que desmata e faz 7% ser tudo que nós tem.
São Roque, Castelo, Covanca, Costallat, Pedreiras, Paineiras, Vigário, Veloso e Cruz.
Nove morros que formam a terra do oito, onde pus meus pés cheios de rugas pela primeira vez em aquele quente mês. A história veio voando pela flecha do passado e atingiu-me o peito como a flecha dos meus antepassados.
Caminhei pela rua, não reconheci ninguém, dizia alguém de fora que eu ia pra casa, mas sem tinta no rosto e com roupa de gente. Que gente era essa que não é Temiminós, muito menos Tupinambás?
Europeu Abaçaí, pra que veio pra cá? Cada canto meu do Brasil tu quis e veio me tirar.
Amuara Paka e Etá, minha de volta será.
Enquanto isso sento na Praia da Moreninha com o rosto lameado da tinta preta e vermelha, o olhar avista o infinito e a voz de minha biza, pobre velhinha, volta a ecoar, contando as histórias antigas de como nossa família fez parte de Paquetá.
— Duas semanas depois de Paquetá.
Glossário:
Abaçaí: Espírito maligno perseguidor de índios.
Amuara: algum dia.
Paka: Pacas.
Etá: Muitos.