Ninguém pode viver para ser suporte dos outros

Quem tem que cuidar de sua felicidade e de seu bem-estar é você. Outra pessoa não pode viver para suprir suas necessidades e, se você não quer que aquela pessoa se vá para longe porque diz que sem ela, "você não é ninguém", isso não é amor. é dependência emocional. Ao que parece, você desenvolveu com aquela pessoa - pode ser filho, cônjuge ou qualquer outra - um amálgama, uma simbiose, um vínculo doentio. Aquela pessoa tem que viver seus sonhos, ir atrás da vida dela. Uma pessoa é um indivíduo, tem suas próprias metas. Manter alguém junto a você por não poder prescindir de sua companhia é egoísmo puro. Temos de ajudar os outros e ser solidários sim, mas não abdicar de nossas vidas e aspirações. E muitos egoístas que não admitem que os demais vivam suas vidas usam de artimanhas, chantagem emocional e pressão psicológica. Dão a entender que a pessoa que quer ter sua vida é que é egoísta. Vejamos bem uma coisa muito séria: abrir mão de nossas vidas pelos outros assim não fará de nós santos, fará de nós pessoas infelizes. Uma mulher que conheci que passou a maior parte da vida cuidando da avó diz que não valeu a pena. Segundo ela, ao fim de certo tempo, vemos que apenas renunciamos ao direito de ser feliz. Quando a avó morreu, ela sentiu que tinha perdido a parte mais importante da sua vida. Claro que não precisava desamparar a avó, mas ninguém precisa passar sua vida apenas para ser um apoio para os outros. E pensemos no quanto é frustrante para alguém ficar pensando que o tempo só está passando e que ela está vendo a vida passar por uma janela. Do mesmo jeito, podemos falar de filhas que deixam de casar ou de viver para cuidar dos pais. Houve o caso de uma que se enforcou porque os pais sequer queriam que ela namorasse e ela viveu só para cuidar deles. Quando morreram, que ela deve ter sentido? Dá apenas para deduzir - e é impossível dizer com certeza - que ela sentiu que tinha jogado sua vida no lixo e que ela não tinha uma vida própria, mas estava apenas amalgamada à vida dos outros. Por acaso a nossa felicidade é tão sem importância para que a sacrifiquemos assim? Temos de nos arriscar e viver nossas vidas. Obviamente, cometeremos erros. Porém, lembremos de algo: se dizem que não sabemos o que é melhor para nós, isto é verdade. Não o sabemos. E por isto mesmo é que temos de descobrir. Só que, com certeza, podemos dizer que o melhor para uma pessoa não é fazer com que sua vida seja apenas para ser uma muleta dos outros. Vejamos o filme Shirley Valetine, no qual uma dona-de-casa inglesa se sente frustrada ao pensar que tinha deixado de viver seus sonhos para ser apenas a esposa e mãe. Ao deixar de ser apenas a esposa e mãe para ser novamente Shirley Valentine, ela se sentiu novamente viva, livre e apaixonada pela vida.