O registro da analfabeta

Sou analfabeta da vida. Perdoem-me, pois não entendo. Nada entendo, pouco compreendo. Ou entendo de muito, ou entendo de pouco, e interpreto errado. Ou certo. Ou do jeito que seria para eu interpretar. Não sei escrever. Não sei pensar. Não sei agir. Sou uma leiga na vida. E desconheço a morte.

Mas a morte de quem nunca foi, o que seria? Seria a própria expressão da vida. O ponto final em uma página sem mácula de tinta. Sem travessões, sem aspas, sem parênteses, sem vírgulas, sem reticências. Sem vida.

Às vezes, a dona do livro (que não é escritora, pois nada escreve), não merece o livro e as tintas que recebeu, pois não faz uso destes instrumentos. E não é falta de tinta, de recursos. É falta de si. Falta da personagem. Falta da autora. Falta da protagonista. É muito vazio para pouca tinta.

O fechar do livro de uma analfabeta da vida é o único registro possível a ser (a)notado.

Infelizmente, rasguei algumas páginas, e tudo o que se pode ver é a capa do livro desta leiga.