Infeliz complexo de inferioridade.

O que é ser pobre?

O que é ser rico?

Eu nasci e cresci numa comunidade. Favela. Lugar sujo, cheio de gente mal educada, suja, barulhenta, folgada.

Sempre tive vontade de morar em qualquer outro lugar.

Sempre tive vergonha de morar aqui.

Nunca dizia de primeira, quando conhecia alguém, a menos que estritamente necessário.

Nunca me vesti ou agi de acordo com a população daqui, justamente pra não ser vista igual.

E consegui aparentar tão bem não ser uma pessoa que mora numa favela que até hoje, com quase 30 anos, as pessoas não acreditam que é verdade.

E por que a senhorita, que não gosta daí, não se muda (Você deve estar se perguntando)??

Porque infelizmente, eu não tenho condições de morar sozinha com meu filho e bancar uma casa num bairro bacana.

Ainda não.

Eu sempre tive esse complexo de inferioridade, essa questão de querer me relacionar com pessoas na mesma condição que eu, com os mesmos pensamentos que eu, pra que eu não me sentisse inferior a ninguém, e ainda assim tivesse alguém com quem dividir os acontecimentos da vida, sem sentir vergonha.

Infelizmente, nunca encontrei essa pessoa.

Tive sorte em conhecer pessoas de outros círculos sociais que me aceitaram e até vieram e vem aqui, numa das maiores comunidades da América Latina sem medo.

Mas ultimamente, esse complexo de inferioridade tem se intensificado.

Eu tenho afastado completa e categoricamente todas as pessoas minimamente superiores (ou eu acho que são) a mim.

Eu tenho tanto medo da rejeição, do escárnio, da pena, que fujo de pessoas que podem me causar a mínima sensação de desconforto.

Lembram que eu havia comentado sobre ter conhecido alguém (pros meus leitores fiéis)?

Então... A família dele é mais abastada que a minha.

Ele viajou mais que eu.

Ele fala mais línguas que eu.

E temos a mesma idade.

E eu me sinto miserável.

Estava gostando dele, do papo, de tudo.

Mas agora...

Eu não consigo tirar isso da cabeça.

Eu me conheço o suficiente pra saber onde isso vai dar. E isso me enjoa.

Sim, leitor. Eu sou ridícula a ponto de perder um possível cara perfeito por pura insegurança.

Uma pena.