A NADIFICAÇÃO HUMANA POR TRÁS DO TRABALHO

Ver a indiferença racional como liberdade, é totalmente incompatível com a idéia de finalidade tomista, mesmo que a pessoa trabalhe a vida toda. A finalidade tomista estabelece um elo interno e uma continuidade concreta entre os atos que inspira e dirige para um mesmo fim, tipo causa e efeito, é o que Jacob Boehme chamou de Fé.

Ela os une por uma determinação mesma, uma vontade comum, que é contraria ao mero acaso, a pura indeterminação reivindicada por essa forma de liberdade de indiferença.

A casuística, o culto ao acaso, reduzirá, o fim ao nível de uma 'circunstância' que 'se acrescenta do exterior à alma do ato humano'. Trabalhar não é finalidade, mas uma circunstância, um meio tolo, que se finge de fim.

Desse modo, a finalidade transformada em meio, não poderá diminuir e limitar a ab-solta autonomia dos atos livres particulares, que se vê mais livre ainda, sem finalidade, que faz tudo só por fazer, não tem mais um fim elevado, senão não mais do que como um acidente qualquer afeta uma substancia.

O trabalho virou o grande anarquismo da indiferença à razão, livre de finalidade. E assim se negligência a dimensão da finalidade no agir humano, que era o que dominava a moral tomista.

E sem fins não há ligação possível com os princípios. O tratado do fim último, do princípio, perde totalmente seu valor e preponderância, sim, e mesmo sua razão de ser, seu motivo de existir. E uma vez fora de toda finalidade racional, a cega obediência à lei estatizante é suficiente para assegurar o que chamam valor moral; à intenção finalizante de Santo Tomás se substitui a única e pura intenção de obedecer ao satânico Estado.

O movimento dos atos hoje é inframoral, sem o habito tomista, que por ser continuo era o símbolo da fidelidade, da preservação do elo. Falam de moral, mas nem sabem o que é isso. Todos vendidos. As circunstâncias podem ser rejeitadas, pois não são finalidades, são meros condicionamentos, tudo muito contingente.

Essa concepção satânica da liberdade conduz logicamente e radicalmente ao descompromisso, à negação da validade de todo compromisso para o futuro, por exemplo: o laço matrimonial, as virtudes de religião, a recusa a toda fidelidade. Sem duvida, os teólogos não quererão jamais ir tão longe; manterão com todas as forças o valor desses compromissos; mas terão contra eles a lógica da liberdade de indiferença.

O objeto da verdadeira moral era a organização e a estruturação das sociedades humanas, por isso tinha finalidade. Justo quando ela queria ser puramente objetiva por temor da arbitrariedade do sujeito, a moral se vê afastada do mundo exterior real e fechada na liberdade louca da interioridade subjetiva do monstro do individualismo, cada um com sua própria opinião "moral", que então chamam de ética. O que pratica o mínimo requerido será considerado livre e destacado do domínio da moral propriamente dita. E pensam que por tanto trabalhar estão justificados, mesmo que por trás do trabalho só se veja a nadificação da alma, a destruição mecânica e rigida do sentido da vida.

Assim se constitui o que se pode chamar a moral do mínimo vital; uma estranha tendência ao mínimo substitui a inclinação ao máximo de perfeição que animava a moral antiga.

Hoje temos a encarnação do desejo de recusar todo compromisso, conforme Lês Mots de J. P. Sartre: “Tornei-me um traidor e assim permaneci. Eu me ponho inteiro em tudo que empreendo, dou-me sem reserva ao trabalho, à cólera, à amizade, e em um instante me renegarei, me sabotarei, eu o sei, eu o quero, e me traio já, em plena paixão, pelo alegre pressentimento de minha futura traição”. O cara já se trai por prever uma traição futura, e diz que o faz por ser fiel a tudo o que chama "pleno", como se fosse um visionário. É um foda-se antecipado. É o espelho almático da sociedade.

YESHUÁ
Enviado por YESHUÁ em 29/10/2019
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