06/11/2002
     Você tinha que seguir o seu caminho e eu o meu. Entretanto, após você entrar em minha vida, a marca ficou.
     Eu nunca te odiaria por conta de um coração partido. Não foi sua culpa, nem minha, isso significa que você deixou o melhor de si comigo e levou um pouco de mim.
     Queria ter dito com minha letra de menina moça que sentiria sua falta, mas estava anestesiada, na esperança de que o inevitável fosse uma mentira. E não foi. E tive de lidar com o coração que ardia, com as lágrimas que não cessavam, com aquela reflexão de que havia um buraco, um buraco escuro no qual eu caí, despencando até me dar conta do óbvio: procurei pessoas.
     Muitas.
     Queria encher esse buraco de cor, de alegria, experimentar as novas tonalidades da primavera, mas cada um que veio, rasgou a tela e jogou mais tinta escura nas intermináveis paredes. No fundo, eu buscava você em outros sorrisos, em outros papos, sem entender, por isso doía.
     Até de longe você me faz um bom danado, porém entendi que antes de buscar alguém como você em outros lugares, tem alguém a quem devo encontrar para as feridas curar...
     Esse alguém sou eu!
***
Esse pensamento é dedicado à primeira pessoa que eu realmente posso dizer que amei, apesar de na época não ter dimensão que o sentimento de amizade se tornou amor. Talvez não seja tão difícil entender por que eu daria tudo para voltar ao ano de 2002, só para reviver as melhores quatro semanas da minha vida, quando realmente me senti plena e feliz, quando realmente gostei de alguém que apesar de não gostar de mim dessa forma (na época eu não imaginava porque nunca tinha gostado de ninguém, tudo era novo, até um pouco assustador, ainda mais quando você é um bocado criança), gostava de mim. E esse foi o último dia que nós nos vimos. Nossa despedida foi com um abraço bem apertado, numa tarde de primavera, o tal do "até mais" que se traduz num "até nunca mais".
Por muito tempo foi difícil falar dela sem chorar, levei meses para ler a assinatura dela na minha agenda (para quem não está habituado à expressão, explico gentilmente, na 7ª série, quando estudei no colégio militar, as meninas cultivavam a tradição de assinarem agendas e escrever coisas legais para as amigas, como forma de lembrança e mesmo quando saí de lá, no ano seguinte, 2002, incorporei esse hábito à minha vida, sempre permitindo que as pessoas queridas deixem sua marca, me deem um desconto também, em 2002 não tinha celular com câmera nem essas redes sociais), muitas vezes eu me lembrava dela e sentia uma saudade estrangular o peito, como sinto saudades de 2002 de um modo geral, não foi um ano perfeito, teve altos e baixos, contudo posso dizer que foi um dos melhores, senão o melhor ano da minha vida.
Descobri que ao longo desses anos busquei em muitas pessoas esse mesmo sentir, mas sempre me frustrei, era algo inconsciente, e tal constatação veio depois de refletir por que eu nunca me senti à vontade com ninguém, nunca consegui me soltar, ser eu mesma, como fui naqueles tempos. E acreditem, até hoje dói, ah, como dói. A saudade de um tempo que não volta. A tristeza de saber que talvez eu nunca viva algo parecido. Porque sentimentos se repetem, as pessoas não são iguais, momentos não se repetem, sempre amamos de um modo diferente, estamos sempre mudando, assim como não sou a Mary de 2002, nem quem era em 2014 (ufa, dessa eu tenho vergonha! rs fiz muita burrice que não vem ao caso, mas ainda bem que quebrei a cara, só quebrando a cara é que pude reavaliar minha vida).
Não precisam comentar nada, essa postagem é apenas para eu nunca me esquecer do dia nem do que senti. Obrigada!
Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 06/11/2019
Reeditado em 08/04/2020
Código do texto: T6788953
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