Um desastre

“Panela em que todos mexem ou sai salgada demais ou insossa”

Ditado popular

Sempre que alguém se intromete na vida dos outros, ainda que com as melhores intenções, o resultado é um desastre. Muitas vezes, a pessoa confunde dar conselhos com se intrometer nos negócios alheios, como se a outra pessoa não pudesse ver, por ela mesma, o que lhe é bom e precisasse que os demais lhe dissessem o que lhe serve. Acontece que temos de lembrar que assim como temos nossos valores e necessidades, aquela pessoa tem os dela. E até os pais deveriam lembrar disso. Porém, não são poucos os genitores que esquecem que os filhos são pessoas separadas deles e agem como se o cordão umbilical nunca houvesse sido cortado, chegando ao ponto de querer programar os filhos, tentando até escolher suas profissões, usando o velho argumento de que sabem o que é melhor para eles. Entretanto, como uma pessoa evoluirá se todos estão a lhe determinar os seus caminhos e dizer o que fazer? Ela nunca irá viver uma vida, apenas seguir o que ordenaram. Isso não é nem ser um ser humano, mas um autômato.

Quantas pessoas, dizendo que querem ajudar, não acabam prejudicando os outros? Um belo exemplo está na ficção, no livro A garota no trem, em que a protagonista, Rachel, chega a inventar para o marido de uma mulher desaparecida que era amiga da mulher dele. Quando ele descobre a mentira, não quer saber das suas alegações de que estava apenas tentando ajudar. Ele fica simplesmente furioso. E, embora suas reações sejam exageradas e violentas, temos de reconhecer que ele tinha razão em estar com raiva. Um outro bom exemplo de como a intromissão em assuntos alheios só dá em desastre pode ser observado quando vemos o que acontece quando os Estados Unidos interferem nos outros países, em suas políticas e problemas internos. Até hoje, o Iraque e o Afeganistão, países que já eram instáveis, estão bem bagunçados. Pena que esse país não aprende com os erros do passado e não resolve deixar que cada país resolva seus problemas.

Só devemos dar conselhos quando alguém nos pede e mesmo assim, temos de respeitar a inteligência e o direito da pessoa de tomar suas decisões e seguir sua própria cabeça. Eu mesma vi que me prejudiquei mais ao ir pelo que os outros pensavam do que quando segui minha cabeça. A gente comete erros sim, mas é através deles que vai aprendendo a ver o que nos serve ou não. Faz parte de viver, amadurecer e aprender a escolher. Nem os pais devem tentar determinar o caminho dos filhos alegando que não querem que sofram. Sofrer é parte da vida. Todo mundo sofrerá, de uma forma ou outra e não podemos brincar de Deus, tentando decidir a vida dos outros e desrespeitando sua liberdade.