Resto

Algo caiu! Estava tão articulado , mas , como que de repente, escapou. Todos os discursos, que por mim foram elaborados e me formaram no processo, tropeçaram, revelaram o mais que de mim era o mais íntimo. Este aspecto subjetivo me posicionou em um campo novo - ou apenas me fez tomar consciência desse lugar? campo do que fica, lugar das sobras e dejetos; encontra-se aí, atrelado ao asco mais profundo, o lugar do leproso. E os olhares alinharam-se, como que  para legitimar o que despencou; como testemunhas seus olhos suplicam meu lugar ao padecimento. O que podes querer aquele que carrega em si a marca da vergonha e da covardia moral? Não maior que um verme, o que pode ser validado em um ser que deixou se inscrever o resultado de uma burrice crônica? Que o pó, volte a ele, dizem os olhos cheios de ânsia. Estes exigem a aniquilação de uma subjetividade já destinada ao trágico fim do humano: que jaza simbolicamente, clamam, pois dele não caiu algo, mas sua essência mesmo foi ao chão. O estatuto de sujeito já não é mais possibilidade para aquele que carrega o significante da morte. 

Abraão Rodrigues
Enviado por Abraão Rodrigues em 12/12/2019
Reeditado em 12/12/2019
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