Só nos carnavais

Tudo que quer ser todo, abdica de algo sem se dar conta. É levado a achar que goza da mais perfeita vida, regada de todo prazer possível: tem gente que vive no Id. Não estamos, pois, ao agir assim, assumindo a posição de suma majestade? movimenta-se e demarca-se posições considerando suas vontades, seus horários e suas benesses. Há relação nisso? Penso que relação implica renúncia, pelo menos em certa medida. E Traição não se dá apenas pelo gozo com outra pessoa, mas quando a imagem de si se biparte ao outro que fora elegido como companheiro: ora se é assim, ora se é o oposto. Difícil é se colocar no lugar do ser só, que é sempre colocado como bônus de um dia ordinário, em que não há os doces momentos de farra e as alegrias da diversão compartilhada. É bom ter o uno para aconchegar à cama; difícil, mesmo, é priorizar, colocar como bandeira de frente, visto nas redes todas como símbolo de aliança. No balanço dos contextos, vejo apenas solidão, uma solidão de dois, que se esvai nos meios da semana, mas que recomeça sempre que há os carnavais da vida.

Abraão Rodrigues
Enviado por Abraão Rodrigues em 16/12/2019
Reeditado em 16/12/2019
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