Ápice

Aquele eterno segundo era perfeito demais para ser capaz de detalhar. Fui agraciado por aquele de maior supremacia divina e autoridade no céu, na terra e nos confins do desconhecido da existência, pois naquele momento eu conheci o êxtase do real sentido de viver. Naquele instante em que as cinco portas de vida se alinharam e se abriram de uma só vez alcançando seu ápice, criando em todo meu ser uma explosão de sentimentos e sensações indescritíveis.

Ela era algo que eu não poderia descrever.

Em meus braços pude a observar atentamente. Permaneci atento naquele breve segundo em que me fez sentir a eternidade. Segura em mim era algo mais que um simples toque, pude senti-la completamente, eu estava nela e ela em mim, numa troca simultânea de energia.

Ela já havia se tornado meus sensores e criado comunicação direta com meu cérebro.

Um gigantesco vazio tomou conta de tudo e nos tornamos pequenos demais para todo o nada a nossa volta ou nos tornamos grandes demais para sermos contidos em um espaço tão pequeno que era a realidade.

Minha visão reverenciava aquilo pela qual ela foi criada. Não havia mais nada para ver, não mais existia coisa alguma que eu iria querer ver.

Seu cheiro era meu mais puro e suave oxigênio. A cada inalação sentia em meus pulmões frescor de manhã de primavera.

Podia ouvir o som do ar entrar pelo seu nariz, ouvi-lo tão claramente descer pela sua garganta que precisamente diria o quão cheios de ar estariam seus pulmões. E o ritmo sereno que dançava seu coração refletia essa paz com que respirava.

Queimem todas as palavras, enforquem todos os dicionários, matem todos exemplos e atirem pedras em toda suposição, pois nada pode se acrescentar ou retirar, medir ou pesar sobre o toque de seus lábios e o gosto que causou em meu paladar.

E por fim me lanço em um paradoxo que nenhum será capaz de desvendar.

Tal coisa tão sublime que nem para mim seria permitido tentar lembrar ou estaria diminuindo algo sem fim por conta dos limites que existem em mim.