Hoje poderia ser meu aniversário de morte

Queria que hoje fosse meu aniversário de morte. Que aqueles comprimidos tivessem feito meu coração parar. Que nunca mais tivesse que carregar o peso de ser eu. Que pudesse ter colocado um ponto final nesse inferno quando ainda dispunha de coragem para determinar o final da minha insignificante participação nessa peça sombria.

As pessoas aprenderiam a seguir em frente e o tempo apagaria os meus rastros de suas memórias e não sofreriam, não chorariam, até porque já vivi por tantas e no fim das contas sou sempre abandonada.

Se elas nunca se importaram comigo, por que sofreriam por alguém a quem nunca amaram, tampouco me enxergaram?

Talvez algumas delas fossem mais empáticas quando não pudessem fazer nada para me trazer de volta.

Hoje deveria ser meu aniversário de morte, mas falhei até nisso e enquanto não me encorajo para uma nova tentativa — que seja bem-sucedida — vou me arrastando numa existência coercitiva porque cansa demais ver todas as pessoas que me fizeram mal se dando bem e me espreitando, me vendo sempre do mesmo jeito, sabendo que estou sempre no mesmo lugar, que em minha vida nada de realmente legal acontece.

Se fosse meu aniversário de morte, eu teria evitado pelo menos boa parte das dores que até hoje me assombram, mas fui uma imprestável e cá estou, vivendo um dia, um dia qualquer, como os que já foram e ainda virão.

Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 20/01/2020
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