Mentiras são aceitáveis?

Minha professora de filosofia me perguntou se a mentira é válida em certas ocasiões, ou a verdade deve sempre prevalecer. Provavelmente, enquanto cidadão, eu deveria dizer que a mentira é completamente inaceitável e que ela é um artifício dos covardes e/ou imorais, mas na verdade eu duvido desse pensamento, portanto venho aqui discorrer sobre esse assunto visando a imparcialidade (embora ache pouco provável), e tentando talvez encontrar uma resposta para essa questão tão polêmica (na minha opinião) para a sociedade. Afinal, a mentira é aceitável em alguma ocasião? Para respondermos esse questionamento creio que devemos analisar a situação de três pontos de vista diferentes. que se interligam de forma visível, como a mentira afeta a vida para quem se mente; como a mentira afeta a vida do mentiroso; Como a mentira afeta a vida daqueles que observam por fora.

Antes de começarmos gostaria de fazer uma última colocação. Eu tenho em mente que a filosofia e a história estão diretamente relacionadas uma a outra. Digo isso por que minha professora de história disse que o dever daquele que estuda a história é criticar os acontecimentos, e talvez esse texto seja mais crítico do que reflexivo.

Como a Mentira afeta a Vida da Pessoa para quem se Mente

Você, enquanto indivíduo, (provavelmente) não deseja que mintam para você, já que se mentiram uma vez, o que garante que não mentiram de novo? Afinal, não há como saber se o que a pessoa X disse é verdade ou mentira. Quando você descobre a mentira, você passa a desconfiar dos outros, desconfiança essa que pode prejudicar ou até mesmo destruir relações, e afetar de certas formas o psicológico de uma pessoa. Portanto dizemos que descobrir uma mentira é algo nocivo, mas e se não descobrir…

Sejamos sinceros, se você não descobrir a mentira os efeitos dela na sua vida poderão ser bem diferentes. Caso seja uma mentira nociva, ou seja, uma mentira que te prejudica, a descoberta com certeza não há de deixar-lhe nada feliz. Se for uma mentira irrelevante, talvez ela se torne insignificante na sua vida, ou talvez deixe você feliz.

Citemos um exemplo para que seja de melhor entendimento de vocês, meus caros leitores. Os pais mentem para os filhos sobre coisas como fada-do-dente; papai noel e coelhinho da Páscoa, mas ninguém reclama já que isso permite que as crianças sonhem, sejam felizes e acreditem em coisas que talvez sejam impossíveis. Afinal, que mal há em sonhar? Esse questionamento nos direciona a outra discussão que não será abordada nesse texto.

Por enquanto nesse primeiro tópico chegamos à seguinte conclusão, a mentira é apenas nociva se descoberta, isso pensando na pessoa para quem se mente, e não assumindo um contexto de certo e errado.

Como a Mentira afeta a Vida do Mentiroso

Agora mudemos um pouco de ponto de vista. Comecemos com a indagação, por que o mentiroso mente? Eu assumo que na maioria das vezes mentimos para esconder um fato. Afinal, eu acredito que a mentira que pretende esconder algo é (na maioria das vezes) a ferramenta de alguém covarde, não leve para o lado fervoroso e sem lógica do comentário nem me relacione aos sensacionalistas extremistas que falam sobre moral e honra como se isso fosse tudo o que existe no mundo sem ponderar os argumentos. Existem vários métodos de se alcançar um mesmo objetivo, e a covardia é uma delas. Não estou problematizando o fato de ser covarde, afinal, qual é o verdadeiro problema em ser covarde? Isso envolve outra questão que eu não pretendo abordar nesse texto, portanto prosseguiremos.

Mas por que exatamente mentir (em certos casos) é um ato de covardia? Bem, sejamos sinceros, você não mentiria para encobrir um fato se não estivesse com medo do que a verdade poderia causar para si. Pode até dizer que está mentindo por outra pessoa, mas no final é apenas egoísmo seu, não significando exatamente que o egoísmo é ruim, é apenas um instinto de autopreservação, mas estamos novamente nos desviando demais do assunto, portanto voltemos ao direcionamento principal. Assumimos como verdade que você mente para “tirar o seu da reta”, nas primeiras vezes em que se mente existe um peso na consciência (pelo menos para mim), peso esse que para alguns e ameniza, para outros só piora. Se você é uma pessoa com fortes conceitos de moral, provavelmente vai sentir-se um lixo humano por mentir, mas se você desprendeu-se desses conceitos mentir torna-se simples. Se sua consciência não te condena por mentir então um terço da equação está completa. Mas o problema não envolve só você, como também envolve a primeira conclusão aqui chegada, se o dito cujo para quem se mente descobre ou não. Se não descobre, então você tem dois terços da sua equação pronta, mas se descobre você perde você teria o equivalente a 0/3 ou 1/3, o que não deverá ser aceitável para caracterizar a mentira como aceitável.

Se você considera-se uma pessoa boa de coração que nunca mentiu visando o mal, mas apenas o bem dos outros, ou acredita que existem seres humanos que são plenamente bons e caridosos e só mentiram para ajudar alguém, então nossa questão muda um pouco de lado. Agora, sejamos sinceros, mentir para ajudar alguém é completamente ridículo, por que você está assumindo que sabe o que é melhor para o indivíduo, embora você nunca vai saber de verdade o que ele está pensando e como aquilo afeta ele. Assumir que sabe o melhor para outra pessoa é muito egocentrismo, por outro lado, achar que a verdade é o certo para uma pessoa também é. No final, não há como saber se é certo ou errado, por que você não pode simplesmente perguntar para a pessoa se ela quer saber isso ou não, e também não pode prever o futuro para ver quais as causas das suas ações. E também há outro ponto, que é o da descoberta, porque se ela descobre talvez fique mais magoada ainda. No final o primeiro e o segundo tópico se interligam em uma variável presente em ambos.

Como a mentira afeta a vida daqueles que observam por fora.

Agora observemos do ponto de vista de terceiros. Muitas vezes aqueles que tem ciência da notícia podem agir de duas formas: Ignorância ou repúdio.

O modo ignorante tem sentido expresso na palavra, ignorar os acontecimentos ao seu redor. Se você tem uma ligação com o mentiroso, talvez goste de dizer a si mesmo que não é da sua conta, ou que não é algo tão grave quanto parece, e talvez não seja mesmo. Voltemos a colocação do segundo tópico, assumir que você sabe o que é bom para outra pessoa é apenas um achismo, que só se mostrará certo ou errado depois do ato já feito. Talvez você até se sinta incomodado a ponto de querer revelar a mentira à pessoa, mas se descobrirem que foi você, talvez todos o julguem de “x9; traidor” entre outros termos, isso provavelmente entra em covardia, mas novamente, quem disse que há um problema em ser covarde? Afinal, é apenas um instinto de autopreservação, (embora do ponto de vista empático você provavelmente seria um cuzão).

Talvez você vá tentar argumentar com o mentiroso dizendo que aquilo é errado e todo esses dizeres sobre ética e moral, e talvez de certo, ou não. Se não der certo você se afasta, ou ignora tudo, ou tenta “agir com os próprios punhos”.

Agora observemos a segundo modo, repúdio. O repúdio é caracterizado pela reação exagerada de uma pessoa de aversão à mentira. No repúdio podemos encontrar desde pessoas que sofreram na mesma situação, até gente com fortes sensos morais que acha que sabe o que é melhor para a vida dos outros. Algumas dessas pessoas são empáticas e não gostam nada da situação, outras apenas não tem o que fazer da vida e querem meterem-se em um assunto que não lhes diz respeito apenas para encenar um papel fictício de “bom moço” ou “herói benevolente do povo”. Sobre esse último tipo de pessoa, tudo o que ouso dizer é que de certa forma entendo essa necessidade de ser aprovado pela sociedade, mas envolver-se na vida de outra pessoa por isso é um ato de egoísmo deveras audacioso e “escroto” (pelo que deveriam ser as convenções sociais), mas essa também é uma discussão para outro dia. Mas acho que é um pouco limitado eu assumir que uma pessoa é inteiramente assim, ela pode ser motivada por “X” motivos, qual tem maior participação vai da consciência de cada um.

Minhas Conclusões

Após essa reflexão devemos agora chegar a uma conclusão, afinal, a mentira é ou não aceitável? Eu sinceramente acredito que em alguns casos de “menor relevância” a mentira é sim aceitável, mas a coisas que eu jamais gostaria que mentissem para mim. Também acho que o peso entre falar a verdade e a mentira depende da pesagem que cada um faz. Façamos uma analogia, o homem que “detém conhecimento” há de ser infeliz, enquanto o ignorante é feliz e tolo. Talvez seja ridículo eu preferir a verdade a mentira, já que essa pode ser bem dolorosa, e admito que a dias que eu prefiro ignorar ou simplesmente esquecer todos os problemas. Ao final retomo a conclusão do meu primeiro texto “verdades e mentiras”, acho que ambas fazem parte do nosso cotidiano e a vida sem uma delas não seria completa. Então, sim, a mentira e a verdade são ambas cabíveis em certas ocasiões. E qual a sua opinião?