Coisas que nunca entenderemos

Entre as coisas que nunca entenderemos, está o fato de encontrarmos pessoas que, sem que lhes tenhamos feito nada, antipatizam conosco. É estranho e, dependendo das circunstâncias, triste. Por que alguém a quem nunca fizemos nada de mal ou cuja existência talvez nem notemos simplesmente não vai com a nossa cara? Ocorre nas escolas, podendo ser motivo de bullying, em ambientes de trabalho e nos mais diversos lugares. Com frequência, dizem coisas sobre a pessoa com quem antipatizam, formando opiniões sobre ela que nada têm a ver com sua personalidade. Aconteceu uma vez com um rapaz que havia chegado de repente para estudar numa escola. Só se sabia sobre ele que ele era filho de militar e tinha mudado de cidade. Como ele era muito reservado e ficava quieto no seu lugar, logo começaram a fazer todos os boatos a seu respeito, comentando que ele era antipático e se achava importante demais para se misturar aos outros. Algum tempo depois, descobriu-se que a mãe dele morrera há pouco tempo e que ele ainda não superara a perda.

As pessoas são preconceituosas e costumam fazer juízos de valor sobre nós sem mesmo nos conhecerem bem. Veem uma pessoa e vão logo dizendo coisas como: “Essa menina tem um jeito tão antipático”; “Aquele cara se acha”. E a pessoa com frequência ignora que é alvo de todos esses comentários e de fofocas. Alguns vão ao extremo dessa antipatia sem razão, chegando mesmo a fazer coisas para prejudicar aquela pessoa com quem antipatizam. Espalham fofocas e fazem piadas sobre ela, que, chegando a saber sobre o que dizem e fazem contra ela, com certeza ficará chocada e perguntará a si mesma: “O que foi que eu fiz a essas pessoas para que tenham tanto contra mim?”

Nos ambientes escolares, a antipatia sem motivo poderá ser muito pior, favorecendo o bullying. A criança vai à escola esperando fazer amigos e aprender e sofrerá um terrível choque de realidade ao sofrer rejeição por parte dos colegas, crianças que a maltratam, xingam e rechaçam sem que ela tenha feito nada antes. Isso gerará vários episódios que ficarão na memória da criança. É muito entristecedor você ir sentar num lugar e as outras crianças dizerem: “Não, você não senta aqui não. Cai fora.” Como explicar o choque que é para alguém, em tão tenra idade, ser tratado como se fosse indesejável? Ou ser colocado para fora nas brincadeiras ou se tornar o alvo preferido das piadas, zombarias, agressões físicas e mesmo de fofocas? Havia uma menina que, como era maior que as colegas, as outras não a queriam brincando no carrossel, reclamando: ”Essa menina é pesadona demais.” Triste demais para uma criança que não pediu para ser maior que as outras.

O pior é que, quando não vão com a nossa cara, mexerão conosco por qualquer coisa. Irão nos importunar por sermos quietos, mais gordos, magros, baixos ou altos que os demais, por sermos bons em algo, por nos vestirmos de uma certa maneira e por tantos outros motivos que parecerão totalmente absurdos. Se refletirmos bem, o que concluiremos? Os motivos que levam os outros a implicarem conosco, na verdade, só existem na cabeça dessas pessoas. Em que você ser mais tímido, alto ou se vestir de preto ofende ou prejudica alguém? Nada. É apenas um pretexto para lhe perseguirem.

E, por causa da estupidez de quem antipatiza e hostiliza sem motivos, o alvo poderá ser prejudicado na sua vida escolar, profissional e social, desenvolvendo problemas como depressão e baixa autoestima. Como explicar a sensação de ser tratada como se fosse uma pessoa errada, que ofende aos outros simplesmente por existir e ser como é? Porque, quando somos rejeitados pelos outros, eles sempre dão a entender que o problema é nosso, nunca deles, que justificam suas atitudes preconceituosas e hostis com argumentos rasos e sem lógica como: “Você, com esse seu jeito, a gente só tem vontade mesmo de mexer com você.” : “Você é quem irrita a gente.”

Porém, se uma pessoa não vai com a cara de outra que nunca lhe fez nada, o problema está apenas dentro da cabeça dela, não na pessoa que se tornou alvo de sua ojeriza.