UNIDADE

UNIDADE

Ficamos a imaginar quantas honras serão conferidas ao infortúnio de um tempo sem fim: para recomeçar; para fazer girar os intentos agnósticos e superar os traumas interiores sem remédio ou remendo. Fazemos fluir tantas e quantas bobagens que nos perguntamos de onde vem toda essa profusão alucinada, empurrando-nos ladeira abaixo para o precipício do inacabado e do incontestável. Precisamos parar com o sonho estúpido do possível, porque precisamos abraçar esse dragão impiedoso chamado luta sem fim e sem trégua. Essa luta que machuca e faz despencar famílias, quando elas mais precisariam estar fortes em sua estrutura.

Em quanto tempo vamos contornar os pés dos assuntos antes dos mesmos explodirem em espirais, sufocando a resposta do que não se sabe e não se usa? Precisamos pensar em uma forma de perdoar a nossa dor de existir sem disciplina e sem caridade na alma por aqueles que a todo instante estão pendurados em nossa consciência a pedir consolo e ajuda e, nós, com todo o despudor de que somos capazes os ignoramos. Achamos estar acima do bem e do mal para qualquer receita recheada de contra-indicações em relação ao próprio homem, faminto de beber o sangue do próximo através da sua energia, que é tão única e verdadeira.

Quantas lembranças essa criança, dentro de você, controla para não vir à tona e mostrar que nem tudo está perdido, aliás, nada está perdido; o homem que cresceu e conheceu mundos ferozes e feios tratou de manchar a página do bom senso e da razão de sua missão. Enquanto SER, desvirtuou o canto da alma e fez aflorar as agonias da matéria.

Nada resta senão choro e lamento soluçante de uma tristeza infinita, tanto quanto infinita é a ferida do orgulho sempre aberta a absorver odores fétidos pairando nas cavas e covas dos transtornos de tantas vidas que trafegam de fronte aos nossos olhos inquiridores, por vezes, cruéis e sem perdão. Queremos pensar em dores da alma como carma de um passado, sempre desculpando a insensatez que move o homem à abstinência da culpa e dos atos culposos; que vira sempre a mesma esquina sem cuidado com quem vem para o abismo do inesperado e tromba com a truculência do acaso.

Elvira Pereira de Araújo