Páscoa

Entre 5 e 13 anos de idade Páscoa era um feriado escolar e ponto final! Ovo, coelhinho... jamais saberia o que isso realmente poderia significar. Pascoa era algo extremamente elitista, Hoje, 40 anos mais tarde, não sou fã de chocolate, seja da espécie que for, não tenho costume em tê-los em minha mesa, salva exceção um bolo, que geralmente sobra uma boa parte, o único alimento da espécie que tem o capricho de sobejar. Assim, a véspera da tão sonhada Páscoa, século XXI, o que mudou? _ A imagem do chocolate está estampada em muito mais lugares do que em épocas anteriores, a mídia faz engolirmos anúncios ainda que não queiramos. São anúncios gigantescos em outdoors, panfletos, na internet, na televisão, há momentos que acredito que irão saltar da tela para dentro de minha sala. Com o poder midiático, fica impossível não saber sobre as novidades do mundo do cacau. E quanto as músicas do coelhinho! Que nada... essa virou piada, a criançada de hoje é mais esperta, até fazem de conta que acreditam e brincam com o suposto coelhinho, contudo, após o filme Deu a louca em chapeuzinho, o coelhinho já era, e nessa onda de transforma o bonzinho em vilão e vilão em bonzinho, fico preocupado quando transformam o Coelhinho em vilão, dão uma caricatura horrível ao bichinho e saem estampando nas pernas, braços e tantos outros lugares; diante de um cenário desse o que uma criança pode esperar de um coelhinho? No que se limita em conhecer o chocolate, o produto, nessa enxurrada de informação, as crianças conhecem seu rótulo, reconhecem a cor específica de cada marca, diferenciam as embalagens, podem não conhecer os sabores, mas, apropriam-se de informações que nós adultos desconhecemos. Tem até língua de gato que virou chocolate, e esse, só o descobri porque um sobrinho meu, de 3 anos, disse-me que queria comer chocotone língua de gato; O garoto deu-me um cansaço, descobrir essa tal língua de gato foi possível após muita risada e pesquisa, acabei encontrando-o em uma loja do shopping. Ainda na ideia primária de meu texto, volto as observâncias de que há pessoas que comemoram a páscoa em seu teor religioso e têm dinheiro para comprar e comer, senão os melhores, que seja um intermediário, ou aquele feito em casa. Há aqueles que não comemoram, mas comem e indiretamente parecem estar certos da data, distribuem abraços e feliz páscoa aos vizinhos, amigos, parentes, são os melhores do marketing. Existem aqueles que ignorar a comemoração, o negócio é comer e distribuir chocolates, consumidores impulsivos, aparecem em datas comemorativas, depois desaparecem. Entre tantos outros, aqueles que morreriam por comer, e não comem; talvez a escola fosse a única oportunidade, Seria naquele e ou naquela professora que copiosamente tirariam alguns reais de seus salários e montariam pequenos kits de doces e bombons, os quais entregariam cumprindo não mais do que um papel de mestre, mas de estrategistas que minimizam as desigualdades diante das desigualdades impregnada. É mas e agora José...

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José?

Com escolas fechadas, até o acesso a merenda tem sido mais difícil, a pandemia a porta, assombrando e colocando em xeque a empregabilidade, seria o ovo da páscoa oportuno?

Volto a meus 11 anos, saudades não do tempo de criança mas de quando via a páscoa como algo tão distante quanto aniversário, dia das crianças, natal ou ano novo, era penas mais um feriado, que dentre um e outro, surgia de repente um presente e um prato de comida diferente. A saudade não é porque sou saudosista, mas é que lembrando em mim não sofro pelos que estão aqui hoje, ao redor de nossos bairros, escolas, e comunidades, ou em periferias mais distantes, crianças que da mesma forma de quando eu menino não vão se importar com o que se comemora, mas coelhinho da páscoa existe?

Paulo Sergio Barbosa
Enviado por Paulo Sergio Barbosa em 12/04/2020
Código do texto: T6914307
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