ABOBRINHAS 1

A idéia-conceito de a vida ser uma caminhada, fascina-me.

Transparece na minha poesia, sempre que falo dos passos que dei, ou dou, ou vou dar, e sempre que falo de caminhos, trilhos, andanças, peregrinações e perambulanças...

Hoje mesmo, num impulso anterior ao raciocínio, ia escrever algo sobre ter recuado tanto nas minhas memórias que, depois, me vi forçado a refazer caminhos antigos, numa lenta, imensa e intensa sensação de “déja vu”, até chegar ao momento de onde tinha partido.

Quem, como eu, convive muito com este tipo de sensação, sabe como ela pode ser, ao mesmo tempo, fascinante e desagradável.

Foi em nome desse desagradável que também seria, que optei por não escrever o texto em questão, e deixar registro - este ! - daquilo que acabou por não ser mais do que uma intenção. Assim me protegi desses tentáculos especiais, que algumas idéias lançam, quando ganham vida e se firmam, independentes além do esperado, tolhendo-nos, segurando-nos, sugando-nos a vontade e forçando-nos a ir até ao fim, na exploração (tornada quase obrigatória) dos seus meandros...

Mas a vida é uma caminhada, sim. Cobra coerências e eficiências, se queremos ir longe em pouco tempo. E exige maiores lentidões, se queremos apreciar as cores mais tênues e subtis com que se maquilha e veste essa paisagem, que é o “entour” dos nossos passos...

Noutras vezes, exige altas velocidades, em emparelhamentos instantâneos com partículas fugazes que, doutra forma, nem veríamos. Noutras ainda, num oposto quase exato, força-nos a lentidões brutais, muito aquém do que seria nossa velocidade de cruzeiro.

Sobressai, assim, a noção do caminho, por um lado, e, por outro, de que há um preço a pagar, por percorrê-lo. Da maneira como balanceamos tudo isso, resulta um resumo do que são os nossos dias, a média do que vivemos.

No meu caso pessoal, são muitos os momentos de felicidade e bonomia, de realização e contentamento, revelando uma média claramente desequilibrada a meu favor.

E, atendendo a que, nos passos que dou, me acompanham as memórias e a experiência colhida nas minhas andanças anteriores, posso até admitir que os ecos desses passos antigos, sejam necessários para caminhar como hoje caminho.

Dispondo-me a pagar o preço de caminhar assim.

E partilhando o mais que puder...

Outubro, 2007