O que o tempo tem a nos ensinar?

O que dizer a alguém que sofre a dor do fim de seu relacionamento e a perda de sua possível “alma gêmea”? Muito!

Geralmente, diante de um fim como este insistimos em viver a manutenção da ilusão. Não sabemos o que fazer com o sentimento que ainda nos resta e, com isso, colocamos o outro numa situação em que ele não deveria estar. Muitas vezes, por romantismo, idealizamos o outro, criamos vínculos que nascem de nossas projeções, aprisionando-o em nossas expectativas que são transformadas em prisões afetivas.

Ninguém deve ser transformado em escravo de nossos interesses. Isso é imaturidade.

Diante da saudade que sentimos não ressignificamos esse sentir. Sentimos mais falta da pessoa que julgávamos existir, do que na verdade quem existia. Na tentativa de me justificar eu fico enfrentando falsos conflitos que não me agregam em nada, só me deprimem, nutrindo uma insatisfação emocional que me leva a conformar com o pouco que aquela vivência poderia me dar.

O sentimento da perda é realmente muito doloroso, mas ele não é definitivo e nem sempre verdadeiro. Muitas vezes voltamos atrás em nossas decisões porque estamos sofrendo e nem sempre sofremos do jeito certo.

Nos deparamos com uma situação em que todos já passamos; tomamos a decisão, ela foi boa, mas o sofrimento não está sendo bom. Sofremos porque não colocamos nossa atenção no bem que se quis quando se decidiu. É uma questão de maturidade que muitas vezes nos falta, fazendo com que voltemos atrás, nos impedindo de chegar ao resultado que queríamos.

Não devemos ter pressa de resolver o que hoje nos faz sofrer. Nem tudo é amor. Os sentimentos nem sempre são verdadeiros. Muitas vezes eles nos enganam, se misturam, e, no ímpeto de diminuirmos o sofrimento, tomamos a decisão errada.

É preciso dar tempo. Conviver com a situação antes de tomar a decisão de voltar atrás ou seguir adiante. Só ele é capaz de mostrar o porquê de estarmos sofrendo. Ele serve como um purificador que nos indica se estamos sofrendo porque realmente amamos ou porque nos sentimos rejeitados quando fomos feridos em nossa vaidade. Isso só o tempo nos mostrará.

O tempo é nosso aliado. É ele quem trará harmonia ao nosso coração. Ele fará a própria varredura da situação trazendo certezas para quando precisarmos agir, agirmos do jeito certo, deixando para trás raivas, rancores e mágoas, nossas piores armas num enfrentamento contra nós mesmos.

Se não temos paciência para descobrirmos o que o tempo tem a nos mostrar, corremos o risco de ficarmos com aquilo que pensamos que o tempo nos deu e caímos na ilusão de acharmos que tudo pode ser resolvido com o recurso da pressa.

As ilusões são atrativas, não podemos negar, mas elas precisam ser quebradas. Precisamos viver de realidades.

Muitas vezes não gostamos de ouvir verdades para que essas ilusões permaneçam intactas, isso se torna um boicote diante de nossa própria realidade, fingindo que não estamos perdendo quando sabemos, verdadeiramente, que não existe um jeito pior de perder do que fingir que não estamos perdendo.

Como perdemos tempo nessa vida! Como não sabemos ressignificá-lo! Como voltamos atrás tantas vezes simplesmente para que o enfrentamento não ocorra ou para que ele seja adiado.

Ah, se eu tivesse levado a sério o tempo e tudo o que ele queria me ensinar. Tantos problemas poderiam ter sido evitados, tantas mágoas, rancores, atropelos que se transformaram em grandes desilusões.

Precisamos ter consciência de que a superação tem que ser diária e isso vale para tudo em nossas vidas. Não devemos viver uma ilusão e nem ser para o outro um território de ilusões.

Não podemos assumir o falseamento como uma postura de vida. É preciso que sejamos verdadeiros com nossos processos para que o sentimento de satisfação, realização seja sentido por nós. Se perdemos tempo com esses falseamentos nos privamos de nos elevar à categoria máxima aquilo que podemos ser. Dá muito mais trabalho ser quem não se é do que trabalhar em sua evolução pra que seu melhor seja alcançado.

Nossa vida é feita de processos que demandam tempo. Ninguém disse que seria fácil, mas se estamos aqui, que seja para evoluir. Precisamos levar a sério nossos conflitos. Chega de tantas ilusões que o mundo tenta nos criar.