Muitas eras em uma só

Vivemos a era da internet. Nunca tivemos tanto acesso à informação, o conhecimento está cada vez mais ao alcance de um clique. Da regra de acentuação à fórmula geométrica, da teoria filosófica à física quântica, temos um leque infinito de saberes ao nosso dispor. E isso é maravilhoso! Será?

Vivemos a era da desinformação. A internet é democrática, abre espaço a qualquer um que possa usufruir da mesma. Em tese, seria um ponto positivo, porém, as redes sociais abrem espaço para que pessoas opinem sobre assuntos dos quais não são capacitadas para tal. Um processo que leva desinformação e desserviço ao conhecimento científico.

Vivemos a era da “idiotização” das redes sociais. Sabe aquele cara que nunca gostou de estudar, colou na prova a vida toda e pouco ligava para o que os professores diziam? Bem, é possível que esse cara se torne um influenciador digital e tenha um alcance maior que todos os seus professores.

Vivemos a era do “fast food”. A vida é rápida, o ritmo frenético, o cotidiano é cada vez mais apressado e consumir ideias às vezes nos custa um tempo que nos é precioso. Um vídeo de 5 minutos no Youtube é mais prático que ler um livro de 500 páginas. E isso pode se tornar perigoso.

Vivemos a era do negacionismo. Quer uma dica de como conseguir views na internet? Crie um perfil do tipo: coisas que seu professor de história não te ensinou na escola. O negacionismo atrai, porque ele é novo, é desafiador, é a sua chance de mostrar algo que pouca gente sabe. É a oportunidade perfeita de parecer inteligente sem muito esforço.

Vivemos a era do anticientificismo. As ciências exatas e da natureza já foram subjugadas. “Quem é um infectologista que dedicou décadas da sua vida ao conhecimento científico para discutir com meu Youtuber que tem um milhão de seguidores?” E as ciências humanas? Essas viraram piada. Quem escuta um professor de história que analisa fontes diversas, pesquisa, checa fatos e discute teorias por anos? “Eu estava lá, eu vi, quem é esse cara para saber mais que eu? “, diria o idiota.

Vivemos a era da cegueira. Idolatramos políticos polêmicos (e despreparados) que usam frases feitas e vagas e fogem de debates mais profundos e críticos. Exaltamos nossa fé acima de qualquer dado científico, desprezados o conhecimento e o método, sobrepujando um deus que se alimenta de vingança e punição aos que não tiveram as mesmas oportunidades que você.

Vivemos a era do preconceito. Mesmo com tanta informação ao redor, nos falta empatia. Um preconceito transvestido de conservadorismo, fundamentado em um deus-homem que fora, na verdade, radical em sua era. Compartilhamos fake news que corroboram com o ponto de vista que concordamos, colocamos nosso ego e nossa fé cega acima de qualquer coisa.

Vivemos a era do “jumentalismo”.