Já te ocorreu?

Os sonhos que sonhamos são quimera perto do fantástico de nossa razão. O homem é senhor de um sistema de silogismos que lhe dá o mais concreto senso de racionalidade, circunstância que, sem embargo, não o impediu de gestar seguidos sofismas formalmente adequados à tabuada sagrada de seu raciocínio onipotente. Racionalidade pura: sabe o que é um sofisma porque ainda lhe resta alguma dignidade por baixo da arrogante certeza de tudo saber. Sabe o que é um sofisma porque vezes há em que o resultado, conquanto enquadrado em seu tabuleiro de produção racional, leva a um absurdo. É de se perguntar se o homem, senhor da razão, saberá mesmo sempre distinguir o que é daquilo que não é, com ou sem sofismas. O homem vive em meio ao mundo de razão como se a racionalidade pudesse lhe trazer as respostas das questões que sequer a razão pode lhe explicar o motivo de causarem tanta angústia. Mergulhado em sua sopa de arrogância, submerso na turva semi-transparência de sua vaidade, o homem não poderia nem mesmo admitir que haja ansiedade na busca pelas respostas. Mas não é senão a angústia de buscar-se sempre e sempre que o arremeteu ao medo de arrostar eventualmente a verdade. Oculto em si mesmo, sob a armadura da racionalidade, peleja arduamente contra a luz impassível do absoluto.

Que sabemos nós do absoluto da relatividade?

Que sabemos nós da quão relativo é o absoluto?

O que tu vês no espectro vermelho será por outrem compartilhado?

O que tu ouves da mais bela voz terá a mesma textura aos ouvidos alheios?

Se tu dormes e vês um mundo de fantasia, ao despertar terá levado alguém a dormir o sonho de tua realidade?

Já te ocorreu que somos habitantes de um ovóide concreto que gira por força de atração e repulsão, solto no espaço e imerso nas trevas de um imenso vácuo?

Marco Aurélio Leite da Silva
Enviado por Marco Aurélio Leite da Silva em 14/10/2007
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