C. H. SPURGEON E O TABERNÁCULO METROPOLITANO

Existem muitas igrejas bonitas, grandiosas, principalmente os templos da Igreja Católica. Igrejas antigas e que guardam toda a sua beleza de outrora. Mas a criação delas não estão vinculadas a um nome em específico, mas sim a momento histórico. Refletem a beleza histórica de um momento. Porém, quando projetos arquitetônicos representam a grandiosidade de homens usados por Deus, o próprio cuida para que nada possa tomar sua glória.

E pensando eu na “glória” que fora o templo do Tabernáculo Metropolitano, quis eu escrever algo sobre; mas não apenas relatar fatos históricos do que foi aquele igreja-templo, algo que todos já sabem, e sim o que representou o Tabernáculo do ponto de vista espiritual, e não apenas do ponto de vista histórico.

Já fazia cinco dias que estivera pensando nisso, e nada de surgir em mente algo para escrever sobre, até que me veio a ideia de levantar a tese... de que o Tabernáculo Metropolitano está intimamente ligado a C. H. Spurgeon, e este àquele, de tal modo, que ambos não subsistiriam um sem o outro. Spurgeon se foi 1892, e depois dele, também, o Tabernáculo em 1898. O pregador precisava de um espaço grandioso. E este era um lugar para um grande pregador, com uma voz com capacidade de atingir milhares de pessoas.

E agora, os dois, só os avistamos em parte, pelo que ficou atualmente, e toda o grandeza deles já se foram. Ninguém terá mais o privilégio de escutar ao vivo a pregação ungida pelo Poder do Espírito Santo desembainhando a espada da Palavra em toda sua vivacidade oral de Spurgeon; e tão pouco ter a percepção de como era ver aquele Tabernáculo lotado com mais de 5.000 pessoas, ávidas, sedentas por ouvi-lo, porque ambos nesse aspecto já não mais subsistem.

E tal fato se dá, em razão de que Deus não deixa que homem nenhum, que seja seu instrumento, se glorie de obras pelo homem realizada e nem os demais em seus feitos.

Levantado então a tese principal, passo aos pormenores.

A construção de templos-igrejas para muitas denominações religiosas é uma forma de “atrair” as pessoas a estes lugares. E isso porque está arraigado à mente das pessoas a ideia “pagã” de que Deus habita em lugares tido por “sagrado”. Todas as religiões pagãs da antiguidade tinham isso como característica: templos como santuários, onde se oferecia sacrifícios aos deuses.

Até o próprio Deus assim se fez próximo ao ser humano por meio desse método, quando Ele, porque assim quis, se utilizar de meios mais primitivos para se tornar conhecido ao homem, mas quando se chegou na “plenitude dos tempos”, enviou Ele seu filho Jesus Cristo ao mundo, então o véu do templo foi rasgado e a acessibilidade a Deus se tornou algo simples, bastando o dom gratuito da fé, para tal, deixando para trás a primitividade do “Deus geográfico”.

Em relação a Spurgeon, a construção do Tabernáculo Metropolitano, foi necessário sua construção em razão da quantidade de pessoas que estavam querendo participar dos cultos e ouvir a PALAVRA DE DEUS SER PREGADA NO PODER DO ESPÍRITO. Não foi construído para atrair as pessoas... como se fazem normalmente. Foi levantado em virtude da necessidade de caber o número de pessoas que eram muitas e estavam em busca de ouvir a Palavra de Deus nos sermões do jovem Spurgeon. O local cabia em torno de 5.000 pessoas.

O que já observei que as aberturas de templos são realizadas para serem pontos de “poder” da denominação. Abre-se uma igreja-templo em um local, não por que as pessoas estão ali precisando de um local para comunhão e adoração (por exemplo, no local nem convertidos precisam ainda haver) mas para que aquele local seja um ponto fixo e visível da denominação x ou y, sacrificando os irmãos de outra igreja-templo com campanhas e pedidos de ofertas. Nesse sentido, depois de construído, haverá mais prosélitos do que convertidos. Ora por que prosélitos? Porque necessitarão de pessoas para aquele novo templo, e se algum pastor tiver por lá precisando ser sustentado, o que mesmo importará é que o sustento venha do prosélito ou do joio.

Vejam o problema que deu, aqui no Brasil, com a proibição dos templos terem que serem fechados por conta do Coronavírus. Muitos líderes religiosos recorreram ao presidente Bolsonaro em busca de cancelar os decretos estaduais e municipais. Tudo isso porque os Templos religiosos estão associados, nas mentes das pessoas, mesmo que teoricamente saibam que Deus não habita em templos feitos por mãos humanos, com a “presença” de Deus nesse lugares, e são nesses lugares tido por “sagrado”, que as pessoas, estão mais predispostas a serem liberais em doar suas ofertas e dízimos, ao serem “tocadas” ou por Deus ou, o que deve ser o mais comum, pela maioria dos pastores, de modo a darem suas ofertas e dízimos. Daí estes líderes terem bravejado muito em razão dessas proibições.

Isso dito, apenas para trazer um pouco de contexto ao assunto que quero apresentar, acredito sim, que a construção do Tabernáculo Metropolitano fora obra de Deus e por necessidade dos cristãos convertidos da época de um lugar que os reunissem, pois a anterior Capela New Park Street tornara-se muito pequena, acomodava apenas 1.200 pessoas.

Susannah Spurgeon, após a morte do marido, juntou cartas, registros pessoais, diários de Spurgeon e conseguiu produzir quatro livros, intitulados de Autobiografia De C.H.Spurgeon. Muito do conteúdo, Susannah complementa com dados familiares e contextualizando alguns fatos. No volume 3, cap. 60, com o título O TABERNÁCULO ABERTO, Susannah insere um trecho de um sermão que foi pregado por seu marido provavelmente nos primeiros cultos de comemoração da abertura do templo.

"Quando às vezes tenho afirmações como essas, ditas sobre mim, “o homem nunca foi educado em uma faculdade; ele entrou no ministério totalmente despreparado para isso em realizações literárias; ele é adequado apenas para lidar com os pobres; sua pregação não é educada e polida; ele teve pouco instrução clássica; ele não pode entender as muitas línguas; ”- digo precisamente que cada palavra dessas são verdadeiras, e muito mais pode ser dito. E se você continua dizendo: - “Este homem toma um projeto ousado na mão e consegue?” eu respondo, exatamente, que vou concordar com tudo o que você diz, mas eu vou lhe lembrar de que “Deus escolheu as coisas tolas do mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as coisas que são poderosas...” Deste modo, eu desejarei, como o apóstolo Paulo, tornar-me um tolo na glória. O que os homens da faculdade fizeram comparável a este trabalho? O que os mais sábios e instruídos têm? O que os ministros modernos realizaram na conversão de almas em algo semelhante como as bênçãos que repousou sobre os trabalhos desse menino sem credenciais? isso foi obra de Deus, e Deus escolheu o instrumento mais improvável, para que Ele pudesse ter toda a glória. E Ele terá a glória; - Não aceitarei nada para mim, fingindo uma educação que não recebi, ou uma realização que não possuo, ou uma eloquência que nunca cobicei. Eu falo a Palavra de Deus, e Deus sabe que ele fala através de mim e trabalha através de mim, e a Ele seja a glória de tudo! (...)Frequentemente ouço na conversa comentários como este: “Não adianta tentar levantar uma causa autossustentável em um lugar como esse; não há senão pessoas pobres que vivem no bairro”. E se houver uma cidade [em Londres, capital da Inglaterra] a ser escolhida para a capela, porém “nunca seria capaz de tal lugar manter um ministro lá; por isso não adianta tentar construir igreja em um distrito assim” ... “Você sabe que, na cidade da própria Londres, não existe no momento um local de culto grandioso de igrejas independentes. Ora essa é a razão para desistência da maioria das capelas do interior em se transferir para os subúrbios de londres, posto que todas as pessoas ricas vivem fora dessas cidades e, é claro, o povo do interior precisam de assistência. Eles não vão viajar alguns quilômetros e parar em Londres, conseguindo pagar moradias; e, portanto, o melhor é usar as doações da antiga capela na construção de um novo local de adorar em algum lugar nos subúrbios [cidades próximas a Londres], onde pode ser mantido”. "Não há dúvidas ", dizem, que “o pobre deve ser cuidado; mas é melhor deixá-los aos cuidados de uma ordem inferior de trabalhadores - os missionários da cidade farão para eles, ou podemos enviar alguns pregadores de rua. Mas quanto à ideia de levantar uma causa próspera onde todas as pessoas são pobres, dificilmente um ministro tentaria”. Agora, minha experiência com os pobres do rebanho de Cristo me ensina que todo esse tipo de conversa é loucura. Se existem pessoas que amam a causa de Deus, e acredito que estes são os pobres, quando a graça de Deus tem a real posse do coração deles, são as melhores em relação aos demais. Neste lugar, por exemplo, acredito que temos muitos assim, mas muito poucos que poderiam ser colocados entre os ricos. Houve algumas pessoas de posição que se juntaram a nós; mas a massa que fez o trabalho de construir este Tabernáculo e que ficou lado a lado comigo na batalha dos últimos sete anos, devem ser contabilizadas dentre os pobres deste mundo. Eles têm sido um povo pacífico, pessoas felizes, pessoas que trabalham, pessoas comuns, e eu digo: Deus abençoe os pobres! Eu não teria medo de começar um projeto para a causa de Cristo, mesmo embora as massas de pessoas fossem pobres, porque estou convencido de que os ricos, dentre estes sendo os verdadeiramente povo de Deus, adoram vir e ajudar-nos aqui. Se você lançar um projeto, excluindo os pobres, tira a força da Igreja; e essa Força é a espinha dorsal da Igreja de Cristo".

Mesmo a maioria dos irmãos daquela época serem composta de pessoas pobres, mas em razão do grande número de pessoas que já faziam parte dos ouvintes de Spurgeon, pois ele estava lotando casas de show e de teatros, com milhares de pessoas, não foi difícil a feitura do maior templo até então entre os Batistas. Entre as igrejas batistas, presbiterianas e metodistas até então não tinham visto algo assim, pois não tinham necessidade de igrejas tão grande, já que a membresia delas eram modestas em termos numéricos.

Spurgeon conseguiu tal feito, pois Deus estava com ele atraindo milhares de pessoas, e conseguir tais recursos não lhe fora algo “milagroso”.

Então, numa segunda feira, em 18 de Março de 1861, Spurgeon relata que a primeira reunião no templo fora feito numa reunião de oração, numa segunda-feira:

“Era mais apropriado que o nobre edifício, que havia sido erguido para uma casa de oração, deve ser aberta com uma reunião para oração. Consequentemente, às sete horas da manhã de segunda-feira, 18 de março de 1861, mais de mil pessoas reunidas no Tabernáculo. Eu presidia e entre os que participaram do processo estavam representantes dos diáconos e presbíteros da Igreja e estudantes da Faculdade. Fervência e intensa seriedade marcavam todas as petições. Na segunda-feira, 25 de março, às 7 horas, o Rev. George Rogers presidiu a segunda reunião de oração e dirigiu-se aos irmãos de uma maneira doce sobre a A Casa de Deus, a Porta do Céu. Às três horas, na mesma tarde, o primeiro sermão do Tabernáculo foi pregado por mim em Atos 5:42: ‘E diariamente no templo e de casa em casa eles não deixavam de ensinar e pregar Jesus Cristo’."

Em 22 de janeiro de 1862, o balanço contábil do Comitê foi apresentado numa reunião da igreja, e mostrou que o total de gastos até então era de 31.332 libras. Os dois maiores itens da compra, foi o terreno, 5.000 libras e o contrato que abrangia tudo para o edifício principal, 20.000libras. Entre os recebimentos, os valores mais altos foram: em conta foram depositados 7.258 libras; doações e assinaturas do recebimento de sermões impressos juntos renderam 9.034 libras; e o próprio C.H. Spurgeon contribuiu com 11.253 libras.

Em 1892 Spurgeon morre. E acredito que, nos anos seguintes, já não havia mais aquele grande número de pessoas que havia nos tempos de vida de Spurgeon.

Então, aquele templo, já não se fazia mais necessário. E poderia apenas render “glória” ao homem Spurgeon, o que evidentemente jamais fora sua intenção, e Deus jamais permitirá que a sua Glória seja atribuída a homens.

Portanto, na minha conclusão, eu acredito que a causa do incêndio que destruiu 90% do prédio em 1898, seis anos após a morte de Spurgeon, iniciado por um incêndio que começou na cozinha do Tabernáculo, não foi apenas por “causa” acidental, mas antes fora pela mão invisível da providência divina, deixando apenas intacto a parte frontal do templo, com aquelas lindas colunas no estilo grego.

Mas o ser humano é teimoso, e gosta das grandezas arquitetônicas... sendo que houve uma nova construção no mesmo modelo antigo, que durou mais de 02 anos para ser levantado, com capacidade para 4.000 pessoas. Em setembro de 1900, o templo foi inaugurado. Abaixo essa foto expressa esse novo templo reconstruído. É uma foto do ano de 1900.

Além de ser semelhante ao original, com menor capacidade, porém estava no mesmo patamar do anterior. Porém, em 1941, devido a Segunda Guerra Mundial acontecendo, Londres foi bombardeada e o Tabernáculo destruído, restando, novamente, do projeto original de 1861, a parte frontal.

Reconstruíram novamente em 1957, que não deixou de ser uma bela construção, conservando o que restou, mas vejam que isso aponta e confirma a minha tese, que depois da morte de Spurgeon, a grandiosidade do templo estava ligada a um momento histórico de avivamento que Deus estava realizando por meio de Spurgeon, e o templo era apenas algo que deveria ser um “objeto de utilidade” para aquele momento específico, e não como algo que deveria ser simbolizado e eternizado como um monumento histórico, fruto do trabalho de um “grande homem”.

Mas até hoje, o Tabernáculo existe em Londres. Sim, de fato, mas com duas modificações que, no meu ver, tira-lhe toda a “glória” de antes.

1. O projeto arquitetônico é outro, não é mais a mesma arquitetura de antes. Apenas a parte da frente do templo se conservou.

2. A capacidade atual é de apenas 1.750 lugares. Ou seja, toda sua grandeza fora tirada, que antes abrigava cerca de 5.000 pessoas.

Nunca haverá dois Titanic semelhantes e nunca mais haveria dois tabernáculos Metropolitanos semelhantes.

O tabernáculo morreu com o seu fundador.

Deus não deixa rastro para adoradores de homens.

Marcos Paulo,

Teresina, 15/05/2020