CERTOS CONSUMOS (Série Reflexiva Mente) ROBERTA LESSA

As vezes penso que o conceito mãe na atualidade está intimamente ligado ao consumo...

As vezes nego essa afirmativa que ser mãe é instintivo e inerente à mulher...

Há contingentes que nos apontam ao condicionamento social...

Todo ser tem em si o desejo instintivo de sobrevivência, isso sim lhe é nato...

Todo ser tem em si a vontade de continuidade ad infinitum, tem sede por isso, e mãe também é continuidade de si mesmo se não nos determos em conceitos de que cada ser humano é único, essencial, sim, geneticamente interligados, mas individualizados, eis o que Sartre chama de condição humana.

Para mim esse condicionamento social, nos represa em armadilhas que auto impingimos e aceitamos para que não sejamos forçados a sair dessa "maldita" zona de conforto que determina o que somos, estamos, fazemos, pensamos..

Dias das mães é comércio... Mãe é contingência, conceito, quando abarcado pela mesmice dos dias institucionais. Mãe é palavra quando não sentida.

Ah! Como somos atados por fios invisíveis, mas tão tangíveis, compreensível quando observado pelo nosso olhar crítico e desprovido do emocional que tanto é manipulado.

Nada de ser "(...) a dona de tudo (...)", nem "(...) rainha do lar(...)", muito menos valorizar o "(...) avental todo sujo de ovo (...)", como dita a musiquinha que nos obrigaram a decorar e cantar numa infância longínqua.

Mãe é condição, mais uma identidade que nós mulheres assumimos, independente de quais sejam suas origens, somos múltiplas em nossa persona diária, entre tantas somos: mulheres, serviçais, dominadoras, prostitutas, amáveis, amantes, vingativas, religiosas... enfim num oceano identitário somos tantas que nem percebemos que somos, pois além do que optamos ser, somos também aquilo que querem que sejamos...

Tentei há muito a "normalidade" do pensar, mas isso não me cabe mais, não me basta mais, pois o desejo é de alçar voos de outros saberes, é submergir num universo da inventividade do pensar enquanto fonte de acesso das verdades não adulterada em prol do domínio do coletivo...

Muitas vezes palavras não me bastam, mesmo as escritas por grandes pensadores, que em certos casos ludibriam nosso livre pensar, se é que somos realmente livres.

Ás vezes nos perdemos naquilo que somos ou imaginamos ser.

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Roberta Lessa
Enviado por Roberta Lessa em 22/05/2020
Código do texto: T6954847
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