A Árvore Cega

A árvore seca, o verde ao seu redor não enxergava

Quando um pássaro em seus galhos sentava, ela logo se chacoalhava e o pássaro espantava

Não queria saber de cores, nem flores e, muito menos, de pássaros cantores

A natureza não sabia o que faria para curar tanta azia e levar à árvore seca um pouco de alegria

Mandou o vento, mandou o sol, mandou a chuva e até um rouxinol

Mas nenhum dos presentes foi o suficiente para deixá-la contente

A árvore seca e emburrada, só da vida reclamava

Para ela nada importava e só um sonho ela sonhava: o dia em que um bom machado a vida lhe ceifava

E de tanto que sonhou, esse dia então chegou, e um machado muito afiado veio e lhe golpeou

E o golpe foi tão forte que abriu um profundo corte, e percebendo a iminência da morte, pôs-se a refletir:

Minha vida era tão bela, tantas cores, uma aquarela, o canto dos pássaros, o voo das libélulas, que por viver amargurada não percebi

Porém, neste momento, de nada adianta o meu lamento, pois sinto não haver mais tempo, porque já estou a cair.

João Rennó
Enviado por João Rennó em 29/05/2020
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