A Árvore Cega
A árvore seca, o verde ao seu redor não enxergava
Quando um pássaro em seus galhos sentava, ela logo se chacoalhava e o pássaro espantava
Não queria saber de cores, nem flores e, muito menos, de pássaros cantores
A natureza não sabia o que faria para curar tanta azia e levar à árvore seca um pouco de alegria
Mandou o vento, mandou o sol, mandou a chuva e até um rouxinol
Mas nenhum dos presentes foi o suficiente para deixá-la contente
A árvore seca e emburrada, só da vida reclamava
Para ela nada importava e só um sonho ela sonhava: o dia em que um bom machado a vida lhe ceifava
E de tanto que sonhou, esse dia então chegou, e um machado muito afiado veio e lhe golpeou
E o golpe foi tão forte que abriu um profundo corte, e percebendo a iminência da morte, pôs-se a refletir:
Minha vida era tão bela, tantas cores, uma aquarela, o canto dos pássaros, o voo das libélulas, que por viver amargurada não percebi
Porém, neste momento, de nada adianta o meu lamento, pois sinto não haver mais tempo, porque já estou a cair.