A Saudade a Ilusão e a Esperança

Me restam 3 coisas nessa vida; A saudade,a ilusão e a esperança:

A saudade das coisas que um dia julguei possuir;

A ilusão de que um dia me pertenceram;

A esperança de que vou me libertar daquilo que nunca foi meu.

Pessoas passaram por minha vida, trouxeram consigo suas dádivas, seus defeitos, suas loucuras, seus medos, sua sabedoria... e todas essas coisas que formam seus encantos; assim como eu, nessa partilha, nessa troca de sonhos de vida. A algumas eu fiz "bem", a outras eu fiz coisas das quais não posso me orgulhar, nessa infindável espiral de sentimentos e reviravoltas advindas do tempo.

Assim como elas, assim como eu; que também fui feliz, que também me machuquei.

Muitas vezes fui frio demais, seco demais, robótico demais; me faltou humanidade para perceber no outro o toque de vida mais sincero que gritava por um olhar, que almejava um carinho, uma compreensão. São milhares de marcas, pensamentos e confusões, são milhares de perdas, sentimentos e ausências...

Hoje eu me encontro louco; uma loucura de vida inebriante e sagaz, intrépida e inquieta. Penso e reflito, faço e refaço, me desfaço, me conheço, me esqueço... me encontro tão logo me perco, falo coisas a mim mesmo, penso coisas sobre o mundo, me sinto, me mato, me resgato e renovo, me controlo, me reconheço, me desminto...

Entre formas, contornos, palavras incompletas e figuras desformes encontro a saudade; às vezes sinto saudade de mim, as vezes sinto saudade de você, as vezes delas, as vezes de nós; as vezes da própria saudade que me permite sentir saudade do que julgava sentir... é quando encontro a ilusão... escrevo, leio, releio, não sinto, mas logo me encontro, esqueço, desfaleço, me descontrolo, me desencontro, te perco, te conquisto, te perco de novo, me perco, não me encontro mais e adormeço... Quando amanhece o dia me pego todo estropiado, jogado em um canto qualquer da sala sem nem lembrar meu nome; repito diversos nomes a mim mesmo pra ver se me encontro e então percebo que estou só... não importam os nomes, os sobrenomes, os pronomes, os adjetivos, os adjuntos, o passado, nem o pretérito e certamente nada disso é perfeito... então eu choro, não como antes, não como sempre, não como ontem. Vejo que há um dia tão lindo lá fora, uma vida tão bela entre o tempo e o momento...

Quando sinto a esperança chegar estou exausto, exausto! De tanto pensar, de tanto pesar, de tanto me iludir e errar, dormir e sonhar e cantar e morrer e nascer de novo, e sonhar sem viver, e viver sem sonhar e morrer sem dormir e dormir sem amar... Nunca foi fácil, não é como se subitamente tudo fosse fazer sentido, não faz, as coisas se moldam a seu tempo e cabe a nós enxergar além daquilo que queremos ver, nada é igual, nada nunca será igual, nós não somos os mesmos,nem o tempo, nem o vento, nem o amor, ou a saudade, não é a mesma ilusão nem o mesmo coração. Somos forjados e lapidados pela vida, amados e odiados por nós mesmos, aceitos como presentes e rejeitados como um vil desprazer, constantemente ao longo dos dias.

Enquanto encenamos a vida e sonhamos paixões, nos encontramos com lapsos de realidades e as vezes paramos no meio da rua nos perguntando porque... existe um sonho de felicidade para cada um de nós, deve haver, é para isso que estamos aqui não é? Então que sejam breves momentos! Que sejam poucos momentos, que sejam loucos, idiotas, inconsequentes e inesperados... eu não vou julgar os caminhos da felicidade, nesse mundo nada é meu, nem as coisas, nem você, nem elas e nem mesmo eu... que passei pela saudade, pela ilusão e hoje tenho esperança... esperança de que vou passar por isso tudo de novo e que isso vai se repetir constantemente ao longo de muitos anos; porque os sentimentos não deixam de existir enquanto ainda pudermos nos sentir vivos, eles se modificam e se aplicam a novas realidades, nós mudamos, tudo muda, os sentimentos se transformam. O que não se pode evitar é a morte, mas tudo bem ela também não me pertence, e quando chegar ela vai levar aquilo que nunca foi meu, pois tudo aquilo que existiu, existiu... a única coisa que vai seguir é o tempo, mas não podemos ficar perdendo tempo pensando nisso.

Aos homens foi concedida limitada compreensão sobre os mistérios e desventuras da vida, como a saudade que nos envolve ao lembrar, a ilusão que nos permite querer e a esperança, que em meio a tudo o que nos parece mais improvável nos permite acreditar; acreditar que haverá uma história da qual se orgulhar, que estamos vivos em toda a nossa essência, que nos confins do tempo irá ecoar,nosso mais forte e belo grito de existência...