Histórias que ouvi meu pai contar

Histórias que ouvi meu pai contar

Homem corajoso e muita disposição para o trabalho, esse era meu pai nascido (penúltimo ano do século XIX) e criado no semiárido piauiense. Não foi por acaso o escolhido pela minha avó, para ser o vaqueiro do pequeno rebanho bovino da família. Destemido para enfrentar desafios, habilidoso no trato aos animais, seu cavalo era sempre arisco, que somente ele ousava montar. Nunca hesitava em pegar uma novilha braba desgarrada do rebanho, como viajar para lugares distantes e desconhecidos, a qualquer hora do dia ou da noite. Assim cresceu, casou, formou a família e tomou a decisão (em meados do século XX), de vir morar no Estado do Maranhão

Nessa empreitada, saiu de Itainópolis atravessou o Rio Parnaíba em Amarante (ambas municípios do Piauí), à outra margem São Francisco do Maranhão, seguiu para Colinas, São Domingos até chegar ao destino - Caxias no mês de julho de 1954. Onde adquiriu uma propriedade rural a 18 km da sede. Lá se estabeleceu com minha mãe e parte dos meus irmãos, vez que uns ficaram no campo, outros em busca de trabalho e estudo na cidade natal - até então eu e uma irmã caçula ainda não haviam nascido.

Se dedicou ao lida e ainda, mais idas à cidade eram necessárias e constantes, para adquirir produtos de primeiras necessidades, vender a sua produção no pequeno estabelecimento comercial, criado na própria casa. Além da quitanda, trabalhava também com agricultura rudimentar e criação de gado bovina e semovente (caprinos, ovinos e suínos). As jornadas eram realizadas em seu animal favorito, de nome “castanhinha”, alusão à sua cor avermelhada e bravio que somente ele ou meu irmão mais velho ousava arreia-la para colocar os adereços como cela, brida que tinha que mantê-la amarrada com o cabresto bem curto ao pé do mourão, senão seria atacado pelos dentes e patas; mas, em compensação era estradeira, de passos largos, cadenciados e rápidos, portanto, muito eficiente para essas submetidas atividades - apesar de cheia de cestros e cismas.

Numa desses trajetos ocorreu um fato pitoresco, que ouvi ser contado algumas vezes. Devido à diversidade de afazeres a serem cumpridas e retorno para labuta, o tempo passou tão rápido que ao perceber o dia já havia chegado ao fim. Quando concluiu todas as tarefas já escuro, mesmo assim teve que por o pé na estrada. Ainda bem que era noite de lua, que saíra aos céus, após as 21 h. No campo, mais ou menos após uns dez km viajados, depois de uma curva, avistara ao longe, uma grande luz de aspecto fluorescente no meio do caminho. A burrinha ao avistar a dita claridade, tratou-se de recuar e não quis dá mais nem um passo à frente, apesar de sentir-se cravadas pelas esporas e intimidada pela voz que ordenava a seguir a estrada. Ela amuou-se. O jeito mesmo foi apear, amarrá-la em uma estaca e partir para averiguação sobre o objeto estranho, que tanto a amedrontava.

Ao se aproximar da claridade a mesma repentinamente desapareceu, a passos firmes, prosseguiu o andar para frente, rumo à estranheza, que para sua surpresa se depara com uma palha de babaçu, que ao ser levada pelo vento, a luz do luar batia na mesma e a espelhava no sentido da estrada. Quando o vento parava de soprar, a folha voltava aa posição original e parava de balançar. A atitude do viajante foi instantânea, puxou o facão que mantinha na cintura e cortou-a, voltou ao ponto, desamarrou_a e continuou o itinerário que foi pensando e fazendo uma reflexão do episódio, ‘se eu’ tivesse uma atitude diferente, construído um desvio para se safar da ‘luz’, e contado para as pessoas sobre o ocorrido, certamente ficaria para sempre assombrado, para se transitar em alguma hora, seria um local de fantasmas e visagens. Mas como ficaria parara sempre um não homem acovardado, desvendou logo o mistério e o lugar continuou livre do provável estigma de ‘aparições estranhas’. E concluiu que ‘quem constrói as assombrações são os medrosos.’’

Autor:Gilberto Moura

Gilberto Moura
Enviado por Gilberto Moura em 13/07/2020
Reeditado em 04/09/2020
Código do texto: T7004531
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