A Semente

O amor não está só na flor que desabrochou e embeleza o jardim, ele também está presente na semente que não vingou e aguarda ansiosa uma nova primavera.

A flor do jardim dança exuberante ao vento, deixa-se polinizar, esparge

paixão no ar e contagia de felicidade o céu, já a semente matura o

sentimento, lapida as emoções e se prepara para seu momento. Sábia,

aprendeu que após o cume, só há a descida, nada nem ninguém vive o tempo todo no ápice e sua hora vai chegar. O tempo lhe ensinou que viver não é escalar uma só montanha e sim ultrapassar cadeias e cordilheiras, sabendo tanto encontrar oxigênio no ar rarefeito do topo que embaça e engana os sentidos quanto sobreviver as quedas, as descidas bruscas e inesperadas, aos escorregões, a dificuldade e dureza das novas escaladas, a calmaria enganadora dos vales que precedem as novas investidas.

Viver, principalmente no que tange a amar é a arte de transitar incólume entre paradoxos, caminhar altivo em pântanos e jardins, saber entrar em sair no paraíso e no inferno, manter sua temperatura instável tanto no verão quanto no inverno.

Esse desejo febril que nos tem brindado com insônia e suores, com lágrimas inesperadas e dores insuportáveis de saudade nas noites de solidão acompanhada ainda é apenas uma semente, precisa ser cuidada e mimada para germinar, mas guarda em si a sabedoria infinita e imortal do amor disseminado inconscientemente por todos os amantes que se deixaram contagiar e se permitiram viver, acessa á memória universal, perdoa seus enganos e erros repetidos, não desiste, insiste em aflorar, aprendeu a ser anfíbio, respira e sobrevive em todos os ambientes, mas quer deixar marcada no solo, numa cicatriz irremovível, as marcas carnais dessa paixão que vive cada átimo para ser consumada carnal e espiritualmente.

Eternamente.