O viver e o poder

Ao criar o ser humano, o Totalmente Outro não o concluiu como o oleiro acaba o tijolo. Deu-lhe apenas a massa informe. Deixou com a criatura a tarefa de fazer-se. Deu-lhe, para tanto, as potencialidades, as quais, se bem desenvolvi-das e cuidadas, fazem dele um homem, uma mulher. Daí a sua incompletude, inacabamento e abertura para a vida, destinada a ser o produto daquilo que ele fizer da realidade da qual é parte e que lhe é interior e exterior.

O humano é um ser-em-construção, um projeto, e nisso reside todo sentido existencial possível. Por termos um ser a realizar, uma vida para viver e uma existência para cumprir, então podemos falar em liberdade, autonomia e interdependência. Mas o rascunho humano a ser passado a limpo encontra-se sob a responsabilidade estrita de cada pessoa, cujo resultado será aquilo que ela fizer de si.

Biologicamente, o humano nasce um filhote inconcluso, com a quase totalidade do seu ser ainda por fazer-se. Nesse sentido, suas potencialidades são decisivas a que ele se torne o que deve ser, segundo suas condições, decisões, atos e ações. Tudo isso segundo seu afeto prudente mais profundo, guiado pela reta razão.

Como essa reta razão pode ser potencializada e exercitada em proveito da realização humana? Nesse processo, três elementos são fundamentais: o saber, o julgar e o agir. Por meio do saber, ele compreende a realidade. Graças ao julgar, direciona suas ações rumo ao bem que elegeu para si. Pelo agir, transforma decisões em ações para executar aquilo que sua mente concebe e deseja.

Pensar para saber, julgar para valorar e agir para fazer-se: essas são nossas tarefas fundamentais e o que podemos enquanto estamos vivos.