Cansei de ser Geni

Assim como Geni entreguei meu corpo a um amante forasteiro. Antes tivesse o entregado a qualquer detento, louca ou lazarento. Antes tivesse amado com os bichos.

E ao contrário de Geni, eu fui a prisioneira, não ligava de apanhar e deixava ele cuspir. Me entreguei como quem dá-se ao carrasco àquele homem, tão longe de ser guerreiro, tão pouco vistoso e nem um pouco poderoso.

E esse forasteiro se lambuzou por noites inteiras e fez tanta sujeira, por tanto tempo, que eu mesma quis me ir. Naquela noite lancinante, deitada ao seu lado depois de deixá-lo saciado, percebi que merecia mais que isso. E nem bem amanhecia eu decidi partir, antes do café, sem dizer nada, pra nunca mais voltar.

Naquela madrugada, com a neblina tal qual uma grande nuvem fria eu peguei o caminho pra casa. Cheguei e não consegui dormir, mas com um suspiro aliviado também veio um sorriso e a sensação de liberdade ao ter deixado pra trás o motivo do meu asco. E essa sensação não tem brilho ou cobre que compre, não vendo nem a um banqueiro por um milhão.

E logo que raiou o dia, percebi que meu erro é ser um poço de bondade mesmo pra quem não merece. Então decidi parar de dar ouvido aos pedidos, por mais sinceros e sentidos que pareçam.

Não quero mais ser Geni, quero alguém que me trate como Cecília ou como qualquer outra mulher amada das letras de Chico.

Agora chega de drama, só queria informar que essa formosa dama já cansou de só servir.

Referência: Geni e o Zepelim - Chico Buarque (a quem for ouvir a música recomendo a interpretação da Letícia Sabatella)

Angelica Stefaniak
Enviado por Angelica Stefaniak em 17/08/2020
Reeditado em 17/08/2020
Código do texto: T7037681
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