Maria (texto de 2012)
Aqui o Sol não tinha pressa de ir embora e mesmo quando partia deixava para trás seu calor escaldante. A terra era vermelha e nossa pele também, tudo era perfeito até que conheci alguém.
Queria eu que esse alguém não tivesse nome, e nem um pouco de beleza, mas até parece que essa menina tinha sido um desenho de Deus guardado na gaveta de sua mesa.
Com um balde d'água na cacbeça ela passava todos os dias em frente a minha casa, onde eu ficava algumas horas do dia consertando minha bicicleta que nunca precisou de conserto nenhum.
É que o dia ficava mais bonito quando eu dizia enquanto ela passava:
- Tá quente hoje!, e ela respondia: - Uhum...
Dia triste era quando chovia e o dia inteiro eu ficava esperando e ela não vinha. O povo me culpava pela seca, era só apontar uma nuvem escura no céu e eu corria pedir pro meu santo do coração:
- Não faz chover hoje pra eu poder ver ela passar, se não chover eu pego minha magrela e pra todo mundo a água eu vou buscar.
E todo dia onde a chuva não caia eu montava em minha magrela e cantando eu seguia buscar água pra quem, nem sabia, me ajudavam no amor. E ela de tão bonita quis equilibrar o universo e dizendo assim em verso uma carta me mandou.
Meu nome é Maria Luz,
Mando essa carta porque
Olhando pra você eu supus...
Ele deve gostar de mim
Porque toda vez que passo
Parece que esse menino
Mergulhou em carmim.
Se eu estiver errada peço desculpa
Mas fique sabendo que o caminho
mais curto não é a sua rua.
O que eu queria dizer, e a timidez me
impedia, é que eu gosto de você.
Assinado: Maria.
Imaginei que naquele dia ela por ali não passaria nem carregada pela vergonha que sentia por saber que a carta já havia sido dada.
Depois de ler a carta montei em minha bicicleta e fui correndo encontrar com a Maria. Na minha cabeça até pedido de casamento eu fazia.
Quando a ví ela estava pegando água do rio, cheguei mais perto e tudo que tinha ensaiado não saiu. Ela olhou pra mim deu um sorriso enorme e se levantou. Eu não conseguia acreditar que essa menina linda queria o meu amor.
Ela pegou em minha mão e rindo disse bem de vagarinho:
- O amor não tem nome nem cor, mas se tivesse seria vermelhinho.
E depois disso era só chuva o que eu pedia, pra poder ficar o dia inteiro abraçado com minha Maria.