Preguiça Nossa de Cada Dia

Ah, o mundo moderno... tecnologia para todos os lados. Telas e mais telas infestam o nosso cotidiano e nossa mentes primatas se tornam aceleradas. Somos fustigados pela grande quantidade de informações que encontramos todos os dias em nosso campo mental. Às vezes acordamos cansados, desanimados, sem grandes motivações. E o que fazemos? Nos culpamos, nos lamentamos e nos criticamos magistralmente por não estarmos motivados a correr atrás daquele emprego, daquela mansão e daquele carro. Ora, tudo se resume a bens? Quem disse que esse é o objetivo último da vida? Somos definidos por nossa classe social ou nosso capital? Recentemente descobri em mim a mácula social infundida em minha mente desde quando eu nasci: só terei valor quando for "alguém". O que é ser alguém? Nascer, estudar, se formar, fazer faculdade, se casar, ter filhos e morrer?

Às vezes sinto como se o mundo moderno criasse autômatos, algo para movimentar o sistema, engrenagens e não pessoas. Percebe o maquinário funcionando? Eu já vi pessoas simples viverem com o sorriso estampado no rosto e pessoas de poder aquisitivo elevados infelizes. Por que devo ser feliz? O que é a felicidade? Parece que para muitos ela é simplesmente o "ter". Não sou hipócrita e sei que ter as coisas é bom, é gratificante, mas a gratificação não perdura. Veja bem, compramos nosso perfeito carro do ano e em pouco tempo estamos cansados do seu câmbio automático e queremos então um manual. Em posse do manual, desejamos o carro automático. Por que acreditamos nessa mentira de que as pessoas devem "ser alguém"? Ser alguém para quem? Para a mídia, para os outros, para o sistema? Não, eu não sou um hippie e não estou aqui escrevendo estas palavras para derrubar o sistema! Estou aqui propondo uma reflexão íntima para si mesmo: você precisa mesmo produzir o tempo todo? Se sentir um lixo por estar "perdendo tempo"? Já tem vinte e três anos e ainda não cursou faculdade e se culpa? Veja bem, eu às vezes me sinto assim! Mas assim como eu, creio que existem muitas outras vítimas desses "valores" sociais. Vivemos de aparência, vivemos em busca de uma satisfação que tenho quase certeza de que não pode ser encontrada nesse âmbito. Ser alguém talvez esteja mais ligado a forma como vivemos, com contentamento e compaixão por nós mesmos e para com os outros. Olhamos para nós e nos comparamos com os outros, com aquela "influenciadora digital", imaginando o quanto somos fracos e incapazes. Mentiras e mentiras, essas pessoas não são perfeitas e suas vidas também não! A sua preguiça não te torna incapaz. Por que você não pode se sentir desmotivado? Por que não pode deitar na sua cama e tirar um cochilo? Você pode, pois é humano! Lembre-se disso: você é humano. Não é um computador. Você possui potencialidades, sim! Todos possuem!, mas pare de acreditar na grama verdejante do vizinho e olhe para aquela que está crescendo no seu quintal e como você pode melhorá-la. Plante flores. Se ele antes não tinha flores, cultive-as. Compare-se consigo mesmo e aceite que você não é perfeito, assim como ninguém é! Pare de medir seu valor através de conquistas e de comparações com os outros. Assim como cada coisa na vida tem seu tempo de crescer, você também tem! Tome a si mesmo como referência! Os julgamentos próprios, os "defeitos" são apenas opiniões alimentadas por uma visão distorcida de si mesmo. Se você está olhando apenas para a lata de lixo, olhe para a grama, a sua própria grama! E quanto aos outros, eles nos mostram a grama verdejante, mas não mostram a lata de lixo!