HOJE EU CHOREI

Hoje eu chorei.

Das cenas mais clichês que um belo filme de drama pode nos proporcionar, me coloquei em frente ao espelho e chorei. Eu senti o que nunca havia sentido antes, um desespero no mais alto nível: ausência de sentir.. vida, morte, amor, ódio, alegria, tristeza.. eu senti não sentir e doeu o fato de não doer, por isso chorei.

A ausência de tudo me trouxe o nada, e eu o recebi. Foi como desejar que a privação das sensações fossem o resultado daquilo que almejei nas noites mais depressivas: minha total inexistência. Mas eu estava ali, existindo, e por isso, chorei.

Eu menti pois senti. Percebi que o nada que antes narrava, foi apenas uma palavra para definir sentimentos que na minha incompetência, não foram entendidos. Mas talvez Stephen King estivesse certo quando disse que as coisas ilimitáveis dentro de nós são reduzidas a mera dimensão normal, quando colocadas em palavras; e talvez por isso seja tão difícil escrever o que disse que (não) senti. Não se descarta a possibilidade da incompetência daquele que vos fala, pois quando se trata de mostrar o que sinto, sou o melhor em não mostrar. E as palavras fazem isso, elas nos deixam nus, não de corpo, mas de alma. E é isso que me traz medo, mas preciso dizer. Chorei.

Tudo ficou tão silencioso que eu podia até mesmo ouvir meu coração bater, ali me senti vivo. Ao mesmo tempo tudo ficou tão sem cor que por um instante parecia morto. Neste momento pude sentir simultaneamente fluir o amor e o ódio que permeavam meu coração; eu tentei não sentir o amor, pois era platônico, e tentei não sentir o ódio, pois ele era por mim mesmo. Por um momento eu ri e pensei que fosse alegria, mas a risada era fruto do medo desconcertante de que mais uma vez eu fosse deitar acompanhado daquela que por muito me é fiel: a tristeza. Percebi que naquele momento tentei lutar contra tudo que sentia, mas falhei.. por isso, chorei.